Após uma noite de grande trabalho e muita ajuda aos necessitados, Daniel se encontrava como qualquer um que estivesse em seu lugar: completamente acabado. Suas roupas estavam sujas e rasgadas, suas mãos levemente escoriadas e doloridas, seus pés não suportavam mais a dor que sentia, sem falar de suas costas. Mas a alegria de ver o bem das pessoas que pode ajudar e daquelas que conseguiram superar os problemas da chuva enchiam o coração de Daniel. Ele sentia-se melhor com isso, mas não era o suficiente para acabar com sua tristeza em ver que o céu desabou sobre a cidade sem dó nem piedade. Ainda muito triste por não ter encontrado seus amigos, Daniel volta para casa tendo que “nadar” pelas ruas de tanta água que corria por elas.
Ao chegar no prédio, ele percebe que tudo estava quebrado na portaria. Algo muito estranho lhe chama atenção: havia marcas de sangue no chão. Daniel segue cautelosamente pelo corredor do prédio e sobe pelas escadas de emergência. Qualquer que fosse aquele sangue, não era seguro subir pelo elevador. Ele andava tentando fazer o máximo de silêncio possível para não chamar atenção. Andar por andar, verificando o chão, as paredes e o teto. Quando chega em seu andar, logo ele se prontifica a abrir a porta, mas ouve um ruído estranho vindo de trás dela. Colando seu ouvido na porta gelada de metal, ele pode ouvir alguns sons que indicavam movimento. O suor começa a escorrer em sua testa como se seu corpo previsse algo negativo. Não agüentando de ansiedade, munido também de medo, ele somente junta-se mais à porta na tentativa de ouvir algo mais. O som era de móveis arrastando, sendo jogados e quebrando. A primeira coisa que vem à sua mente: “ladrões”!
Daniel adianta-se e abre a porta. Como estava pronto para qualquer imprevisto, ele continuava a se mover em silêncio verificando o lugar. As portas dos apartamentos estavam abertas, algumas por arrombamento, outras sem marcas de violência aparentes. Ele olha atentamente pelo corredor e percebe que a sua porta era a ultima a ser aberta, seguindo a seqüência dos assaltantes e ela já estava arrombada. Daniel não mede esforços e segue na direção da mesma com certa angústia no peito. Ao surgir na porta, logo arranca um susto de um dos comparsas que estava exatamente de vigia. Ele rapidamente puxa uma pistola do bolso e aponta na direção do recém chegado. Num lapso de nervosismo ele grita:
- Mete o pé! Você não viu nada! Ou então eu meto uma balaça na sua lata! Vai ficar com um terceiro olho se der mais um passo...
Daniel, confiante, permaneceu parado e olhando na direção do bandido. Seus olhos se desviam somente quando outro deles aparece e encara-o de forma arrogante. Este outro diz:
- O que você está olhando? Primo, fura essa peneira logo...
Aquele que carregava a arma tremia. O suor corria em seu rosto, da mesma forma que acontecia com Daniel. O silêncio tomou o lugar por algum tempo, até que Daniel decidiu se anunciar:
- Eu sou o dono deste apartamento. Não acredito que em meio ao caos que está lá fora, vocês estejam saqueando casas de trabalhadores... O mundo não está sorrindo, ele está sangrando... e é por causa de homens como vocês que estamos enfrentando toda essa...
Daniel mal termina de falar quando o disparo da pistola faz seguir a bala que atravessa seu corpo. O calor, a dor, o medo. O jovem sente seu corpo tremer, sente seu corpo sangrar. O som da bala atravessando-lhe e sendo aparada pela parede do corredor ecoou por todo o prédio. O portador da pistola arregala os olhos, havia disparado por simples medo, descuido, nervoso.
Daniel leva as mãos ao ferimento. A visão do sangue lhe faz pensar em sua curta vida... afinal, todos os seus aparentes vinte e poucos anos haviam sido apagados e os meses que viveu até agora eram pouco para se fazer lembrar. Um sorriso de canto de boca e então seus músculos tremem. Daniel é levado a cair de joelhos pela fraqueza de seu corpo. O bandido mais irritado vê aquele meio-sorriso e então indaga:
- Tá rindo de quê, Comédia?!
Daniel continua a sorrir, agora mais aparente. Ergue o rosto deixando transparecer sua caridade e então diz:
- Não consigo compreender o motivo de vocês de fazer o que fizeram. De saquear... argh... (cospe sangue) .... de matar... mas mesmo assim... eu os perdôo. O sofrimento que passaram deve ter maltratado vocês o suficiente para que chegassem aonde estão... arghhh...
Daniel sente que algo está muito errado em seu corpo. Sua visão embaça e seus músculos perdem cada vez mais a força. Ele olha para cima mais uma vez e como se orasse ele acrescenta:
- Espero que aprendam algum dia... espero que mudem e que ajudem alguém... pois somente se ajudarem outra pessoa, estarei morrendo por um motivo que me faria feliz.
Daniel tonteia, mas força para ficar acordado. Porém após um urro de raiva, o bandido que havia chegado por ultimo lhe esbofeteia a cara com força e esbraveja:
- Filho da Puta! Não vem com essas babaquices pra cima de mim... vocês playboys sempre tem de tudo, sempre podem tudo, agora não me vem com esse discursinho de merda!
A reação de Daniel é esticar a mão e tocar o peito do assaltante, que se assusta com a reação dele. Em murmúrios ele diz:
- Não... não quis ofender. Arrrghh... (escorre sangue de sua boca)... morei na rua, sei a pressão que se passa... somente escolhi viver. Não gaste sua vida no perigo... não se culpe... está perdoado.
Daniel não resiste e desmaia logo em seguida. Os dois bandidos ficam perplexos com a reação do homem que sangrava no chão. Eles sentiram culpa, eles sentiram inveja daquele homem... mas não por sua condição financeira, que não era uma das melhores, e sim por sua compaixão... por sua caridade. Aquele que esbofeteou Daniel não resiste e sai correndo, afugentado pela realidade. O outro se arremessa ao chão, sentado e pensativo. Deveria fazer alguma coisa, deveria tomar alguma atitude. Mas não estava certo do que fazer, se colocaria sua pele em risco por causa de alguém que nunca viu em sua vida. Vendo o sangue começar a aumentar no chão, ele chega logo à uma conclusão: deveria levá-lo à um hospital e deixá-lo lá. Mas não poderia ser em nenhum lugar próximo, pois poderia trazer os policiais à cena do crime. Então o homem ergue o corpo de Daniel e coloca-o em seus ombros. O sangue vermelho-escarlate mancha sua blusa, mas este não se importa. Ele segue para a garagem do prédio, que ficava no segundo andar e busca um carro grande o suficiente para passar pela rua cheia de água. Um furgão é escolhido e os dois partem desta para outra...
Melhor ou pior... ninguém saberá dizer.
7 Comentários:
Olha lá ein! Eu tenho blog a mais tempo e tu já quer me desbancar pow? Sacanagem Daniel! hsahuhsuahusa
14 de abril de 2010 às 02:01?.?
14 de abril de 2010 às 16:03Desbancar por que?! Se tem um banco?!
Tenho...o BBRPG. Banco de Balelas RPGísticas xD
14 de abril de 2010 às 20:49=]
15 de abril de 2010 às 04:58Epa... derrubei e peguei...
Vai pra minha coleção de livros esquisitos.
VOCÊ é esquisito cara isso sim hsuahusa
16 de abril de 2010 às 11:50^^
17 de abril de 2010 às 22:59Lord malka, me apaixonei por seu livro, parabens
16 de agosto de 2014 às 18:08