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  • A morte não fecha o círculo da vida, somente renova-o...
  • Um anjo, assim como um ser humano, possui livre arbítrio... porém seu custo sempre será mais caro.
  • O amor é o oposto do ódio, mas nada impede que um gere o outro...
  • O ódio consome o ser, enlouquece e cega ao ponto de não se saber mais o que se está fazendo.
  • Cair é a consequência de se trair aos teus próprios pilares.
  • O mundo muda de acordo com o pensamento das pessoas...
  • No fundo, todos queremos ver o pôr-do-sol.
  • Um anjo pode amar?.
  • Mesmo obscurecido, não perdeis à fé em teu Criador.
  • Redenção... um árduo caminho a se seguir.
  • Ao cair o anjo pode redimir-se ou tornar-se o pior dos demônios.
  • A Estrala da Manhã nunca optou pela redenção.
  • Para os Homens, os sentimentos pesam muito em sua escolhas.
  • Os anjos não possuem sentimentos como os dos Homens.
  • A maioria somente sabe o que é vida ou morte. Anjos não possuem sentimentos, seguem ordens.
  • Porém, anjos também possuem coração.

Resumo do Conto

     Desperto em um corpo humano no mundo corrompido que ele acredita ter sido esquecido por Deus, Daniel busca por um meio de retornar à graça divina e readquirir suas asas e sua aura angelical. Após cair e perder sua memória ele caminha buscando respostas.
     Unindo-se a um grupo liderado por outro Anjo, Daniel aprende os valores mortais e acaba descobrindo os motivos do Altíssimo para colocá-los sempre à frente da raça perfeita: seus Anjos.
     Romance, Aventura, Suspense... Elementos que farão parte da nova vida de Daniel, pós-queda. Um Imortal em um corpo Mortal. A Ultima Sombra de esperança Pré-Apocalíptica.

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Capítulo 17 – O Poder da Fé

Ana e Ramon se encontravam em apuros. Eles não conheciam o verdadeiro poder daquele inimigo e estavam diante de uma situação muito difícil. A névoa cobria todo o chão do local, mas aos poucos começava a ficar mais densa e com isso o próprio lugar se embaçava dificultando a visibilidade deles. Ambos já haviam combatido seres desta raça, mas nunca um Lord, o que lhes traria alguma dificuldade. Ana estava nervosa, não poderia abaixar a guarda nem por um segundo, afinal ela tinha muito que resolver ainda. Ramon não temia a situação com a mesma intensidade de Ana, pois ele havia treinado combate cego durante sua participação na Ordem da qual veio. Porém, os dois estavam a suar frio.

Não demora muito para que o primeiro vulto seja visto naquela paisagem turva. Ana se volta para o local onde se originou aquela silhueta, mas nada encontra. Ramon, por sua vez, já se preparava para disparar caso notasse o movimento outra vez. O Vampiro gargalhava, brincando com suas vítimas como era de seu costume. Este queria fazer deles seus brinquedinhos antes de acabar com suas vidas, afinal, eles haviam feito um rombo feio em seu peito com aquela arma. Então outro vulto surge e um disparo é dado por Ramon. Ana se assusta com o barulho e não nota a presença do vampiro se aproximando por trás dela. Essa era exatamente a distração necessária para que o monstro se aproximasse. Porém, Ramon já esperava por este desfecho e logo prepara a arma para um novo disparo olhando ao redor em busca da surpresa. O vampiro surge por trás de Ana, que não percebe a aproximação. Outro disparo é feito, desta vez com um alvo visível. Ramon dispara mirando ao lado da companheira, onde nota o contorno do inimigo. Este se desfaz na névoa.

Logo sua voz atravessa o local, ecoando e dificultando a localização do locutor:

- HAHAHAHA! Estão assustados? Vamos ver quanto tempo agüentam este joguinho...

Ramon se enfurece e sua ira é percebida por Ana quando este deixa soltar uma pequena bufada. Os dois novamente começam a procurar pelo vampiro, mas desta vez notam que diversos vultos cruzam as extremidades da sala. Sentindo-se perdidos, eles começam a sentir o gosto do desespero. Mas Ana não se deixa entregar, logo se recorda de um de dos rituais aprendidos durante sua vida de caçadora. Ela começa a recitar palavras em latim buscando iniciar a busca pelo maldito. Ramon percebe o feito e começa a vasculhar seus bolsos procurando por um orbe de água benta. Novamente os diversos vultos cruzam a sala, mas desta vez eles passam por entre os dois como se fossem sombras muito velozes. Ramon arregala os olhos e busca identificar o vampiro caso ele passasse, mas não obtém êxito. O vampiro novamente inicia uma ameaça:

- Não adianta orar... Sua fé não é nada contra mim! Agora, comecem a sofrer...

Os vultos se intensificam e com eles ataques invisíveis começam a ferir a pele dos companheiros de Raziel. Ana deixa escapar um gemido de dor, mas não se perde em sua concentração, continuando a proferir aquelas palavras. Ramon começa a ferir-se quieto, tentando suportar a dor. Ambos sentiam seus corpos sendo saqueados, a cada golpe uma pequena quantia de seu sangue era sugado. O vampiro começa a gargalhar como se anunciasse sua vitória.

***

Raziel percebe que aqueles dois anjos que conversavam com Lúcifer se vão sem dizer nenhuma palavra. O Imperador do Inferno olha por cima do ombro como se notasse a saída dos dois e então se volta para Raziel, um pouco mais sério.

- Você sabe o que eu quero dizer, não sabe?

O Príncipe dos Querubins não diz nada de imediato, não precisava dizer nada. Ele somente continua voltado para o horizonte, observando atentamente todos os quilômetros que o distanciavam do escolhido para impedir o apocalipse. Lúcifer então sorri de leve, estava certo do que diria e mais do que confiante nesta visão:

- Não sei se sente o mesmo. Mas tudo o que conhecemos está prestes a mudar. E tudo isso por algo que eu mesmo tentei há muito tempo. Algo que não deu certo uma vez, mas que agora pode dar certo...

Raziel olha para Lúcifer e responde:

- Não sei ao certo o que pode vir a acontecer. Recentemente minhas visões estão se encurtando, diminuindo ao mesmo passo em que me torno humano...

O Senhor do Inferno olha para o céu e diz:

- Você escolheu a humanidade, irmão Raziel. Eu escolhi meus irmãos, os seres perfeitos. Nunca iremos entrar em um acordo, mas posso dizer que Daniel agora terá de fazer a escolha dele... E com esse corpo de barro que você tanto cobiça, ele poderá escolher qualquer um dos dois lados.

Raziel olha para Lúcifer sério. Por alguns segundos ele passa a sensação de que irá enfrentar o que o caído diz, mas toma outra atitude ao desfazer a seriedade em sua face para algo próximo à preocupação:

- Entendo. E acredito que ele irá ter de escolher sozinho... afinal, não adianta lhe pedir para que não participe desta decisão.

O Imperador do Inferno sorri. Às vezes ainda se assustava com o poder de adivinhação e previsão de seu irmão Querubim. Lúcifer se se encosta à barra de proteção e é prontamente seguido por Raziel. Os dois se entreolham e o decaído diz:

- Você não quer travar uma batalha aqui, quer? Não estou disposto a lutar. Seria melhor resolvermos isso de uma forma mais pacífica, não concorda?

Raziel sorri, olha para o céu e responde:

- Não... Não quero confrontá-lo. Mas... Posso dizer que eu vi como você irá terminar nesta guerra...

Lúcifer olha para o horizonte pensativo. Não perguntaria nada a Raziel por puro orgulho. Mas sentia-se curioso a ponto de parar para imaginar do que ele estaria falando.

***

Após mais alguns ataques do vampiro, Ana finalmente conclui o ritual pondo as mãos sobre aquele orbe que Ramon havia separado para este propósito. A esfera de vidro contendo água benta começa a brilhar num tom fraco de luz, e então volta ao normal. Pronto para acabar com este jogo, ele arremessa-a contra o teto do lugar fazendo com que se parta e a água se espalhe. Algo próximo de uma chuva de água benta se forma por alguns poucos segundos e a água pura e santificada cai sobre a névoa atingindo o vampiro. Onde ele estivesse, a dor da água santa ferindo sua pele como ácido corroendo o metal, era tamanha que logo sua concentração se perdera e assim a névoa começou a se dissipar. Sua posição foi então revelada e com ela um novo ataque em conjunto é iniciado por Ramon e Ana.

O vampiro se depara com Ramon olhando em sua direção com a Serbu apontada para ele, então vem o primeiro disparo, seguido do segundo e posteriormente do terceiro. Os três projéteis atingiram novamente aquele corpo morto fazendo-o ser jogado contra a parede atrás dele. Ana, por sua vez, começa a correr na direção do maldito com sua cruz em mãos preparando um novo ritual. O semblante do vampiro é de surpresa quando nota a cruz vindo de encontro com sua testa. Ana começa a orar, iniciando um ritual de exoneração do corpo maldito de volta para sua cova, de onde nunca deveria ter saído. A pele da testa do vampiro começa a queimar mais e mais de acordo com as palavras proferidas pela mulher. O maldito não conseguia se mover devido os ferimentos e o poder do ritual. A fé de Ana era tamanha que ele sentia-se como se fosse esmagado por um navio. Enquanto isso Ramon preparava novas balas para recarregar sua arma.

O vampiro já estava quase com toda a sua face queimando quando alguns sons provenientes do corredor atrás da porta de entrada desta sala revelaram a presença de alguma coisa grande se aproximando. Ramon logo pensou na companheira transformada em Besta e por isso virou-se de costas para Ana em seu ritual e voltou sua atenção à porta. A ansiedade era tamanha que o suor escorria por sua testa chegando ao seu rosto e parando em seu queixo. Não acreditava que teria de pará-la novamente. Da ultima vez quase perdeu o braço. Ele diz à Ana:

- BlackWolf está chegando... Acho que ela está descontrolada de novo.

Ana não interrompe sua oração. O corpo do vampiro começa a entrar em combustão total. Ela finaliza o ritual dizendo:

- Volte para o Inferno, de onde não deveria ter saído. E se acredita na Piedade do Senhor e arrepende-se dos teus pecados, terá livre acesso ao Paraíso prometido. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Amém.

Então o corpo do vampiro se desfaz por completo. Na mesma instância que ele vira cinzas a porta de entrada é arremessada contra a sala pegando corpo de Ramon e jogando-o contra a parede oposta. BalckWolf babava em fúria procurando por mais vítimas para saciar sua sede de sangue. Ela estava sedenta por mais “diversão” enquanto Ana respirava ofegante após executar um ritual de alto nível. Agora ela teria mais um desafio: para Talutah e ajudar Ramon antes que seja tarde para os dois.

Capítulo 16 – Uma estranha Aliança

Sua pele morena estava possuída por pêlos lisos, enegrecidos, como os de um lobo negro. Sua face carregava a herança canina, espumando em sua boca a fúria de seus ancestrais, com o obscuro brilho de suas garras sedentas por vingança. Talutah estava completamente diferente de seu costumeiro jeito esnobe, agora completamente animalesca ao bufar se contendo um pouco mais para que seus amigos saíssem do lugar. Como sempre acontecia, sua mente começava a ser dominada por um instinto que ela não conseguia controlar, algo que sobrepunha sua sanidade e que somente a abandonava quando estava completamente saciado em sua ira. Suas vestes eram especiais, estavam esticadas e suportavam toda aquela transformação, como se ela já estivesse preparada para eventuais descontroles. Talutah, agora BlackWolf, recordava-se sempre de sua infância no momento em que deixava seu corpo neste estado: o momento em que foi batizada com o sangue de seus inimigos no campo de batalha em sua primeira transformação.

Os vampiros atacavam-na sem piedade, arrancando-lhe pequenos desvios de sua atenção quando as garras e dentes deles feriam sua pele. Mas ela aguardava, mais do que a fuga de seus amigos, que agora se encontravam distantes, e sim a completa fúria de sua raça. No momento em que seu corpo já se encontrava mais do que escoriado com os ataques alheios, no mesmo instante em que um dos inimigos abocanhava um de seus braços, ela decide acabar logo com aquela brincadeira e deixa sua mente ser superada pela besta que comandava sua essência. Sua boca emite um grunhido característico daqueles de sua espécie quando estão possuídos pela monstruosidade e logo em seguida, o rosnado para aqueles que pereceriam pelas garras de sua maldição. Muitos dos vampiros que atacavam-na se sentem amedrontados com esta iniciativa dela enquanto outros não se intimidam. Aquele que estava grudado em seu braço, sugava de seu sangue enegrecido e sentia a onda animal dominando sua face. Mas sua dor foi pouca, quando Talutah levou o outro braço em sua direção e agarrou-lhe a parte inferior do corpo puxando-o para fora de sua carne. Os olhos do vampiro se arregalaram com a força usada por ela, quando a mulher-lobo usou de sua outra mão para segurar seu pescoço. O estalo foi instantâneo, seu tronco se dividindo em dois com o movimento dos braços dela. O sangue vampírico escorria ainda quando sua carne morta começou a esfarelar como cinzas ao vento.

Todos os vampiros que continuavam seus ataques interromperam imediatamente seus movimentos com a cena grotesca em que seu semelhante fora morto. Aqueles que se amedrontaram, viraram-se de costas e começaram a correr. Porém, BlackWolf não estava disposta a deixá-los fugir e agiu à toda velocidade de seu corpo, saltando na frente da entrada do corredor que levava à essa galeria. Imediatamente eles pararam e antes mesmo de seus cérebros moribundos raciocinarem uma outra fuga, seus corpos foram partidos em diversos pedaços com os golpes das garras dela. Mais de dez se foram, com seus corpos virando pó antes mesmo de cair no solo. Vendo que não havia formas de fugir daquela “coisa”, os outros decidiram lutar usando todas as suas armas. Os vampiros que estavam mais distantes puxaram armas que se encontravam ocultas por suas roupas e começaram a disparar contra a pele recoberta de pêlos da mulher-lobo. Aqueles que se encontravam mais próximos começaram a afastar-se para não serem atingidos. Porém, nada daquilo adiantava, as balas não tinham composição e nem potência necessária para ferir a pele resistente da besta, e ao se chocarem contra ela, se amassavam virando chapinhas similares à miniaturas de tampa de garrafas. Black Wolf não se intimidou, começou a avançar imponentemente com suas garras erguidas. Eles tentaram fugir novamente e pereceram às mãos dela. Seus corpos ao serem atingidos pelas garras, se partiam facilmente como se fossem feitos de papel. Não estavam preparados para enfrentar tamanha fúria. Alguns poucos que sobraram começavam a tentar negociar suas vidas, tentavam dialogar com um animal e só o que lhes restava era a dor de seus corpos sendo cruelmente massacrados por ela.

No final, restavam dois ainda vivos e a mulher-lobo ainda não estava saciada, ainda podia-se ver a espuma do ódio em sua boca, seus olhos amarelados estavam inquietos buscando mais diversão enquanto somente dois “ratos” tentavam esconder-se escalando as paredes enfeitadas com ossos. Talutah se aproxima dos dois, que juntos são erguidos pelas mãos dela, agarrando-os ao mesmo tempo por suas nucas. Ela urra, berra como um cão furioso em meio à caça. Os dois vampiros gritavam como crianças, pedindo misericórdia, implorando perdão por algo que nem eles mesmos sabiam ao certo o porquê. Na face obscura daquela mulher-lobo encontrava-se o sorriso da satisfação na idéia que sua maldade encontrava mais e mais diversão. Não satisfeita por ter acabado com o grande grupo de “insetos”, ela decide maltratar aqueles restantes. E começa quebrando-lhes os ossos do tórax ao chocar seus corpos uma dezena de vezes contra a parede de mortos. Uma duas, três, dez vezes. Foram de inúmeras formas que seus corpos se colidiram contra os crânios das paredes. Eles já não controlavam nem seus braços, não sentiam suas pernas e mal conseguiam falar. Mas BlackWolf não estava satisfeita, ela pisou em seus pés e puxou-os para cima, seus corpos estalavam, seus ossos se partiam, suas vidas se extinguiam. Não demorou muito para que eles viessem a se transformar em pó como os outros. Ela olhou em volta, farejou por algum tempo e não encontrou mais ninguém vivo, ou morto-vivo. Porém, ainda havia três naquele local, possíveis momentos de diversão. Um sorriso macabro e ela começou a caminhar na direção em que estavam aqueles três, sem nem se importar que dois deles eram companheiros. A besta estava faminta por sangue e nada poderia lhe parar até que se sentisse saciada por completo.

***

A torre Eiffel estava fechada para visitas devido uma manutenção de seus elevadores e de toda a fiação elétrica de sua iluminação, desde que tudo estranhamente entrou em curto na ultima madrugada. Em seu topo estavam somente dois funcionários trabalhando, mas por um curto período de tempo seus corpos adormeceram sem que eles percebessem e até que a reunião fosse finalizada, eles não iriam acordar de forma alguma. Três seres conversavam naquele lugar, uma mulher de longos cabelos brancos, pele clara e olhos verdes, um homem com feições orientais, cabelos curtos e negros, pele clara como a neve e olhos profundamente escuros, e o ultimo era Lúcifer, com seus longos cabelos negros soltos balançando ao vento, seus olhos negros observando atentamente o que os outros diziam. A conversa seguia quando o Imperador do Inferno percebe a aproximação de um velho amigo, mas não anuncia seu conhecimento.

Mulher: - Não acredito em você. Quer dizer que não fará nada para impedi-lo?

Oriental: - ...

Lúcifer: - Não tenho que me preocupar com as ambições dele, na verdade ainda estou pensando em uma punição quando ele voltar para Casa.

Mulher: - Você não está entendendo: Os Céus não estão normais. Recebemos ordens para não interferir em mais nada na Terra. Não posso ficar saindo de lá para vir resolver coisas como essas... Estou colocando minhas asas em jogo.

Oriental: - Estrela da Manhã, a humanidade ainda tem chance, você nunca acreditou no potencial deles, mas eu mesmo já presenciei grandes façanhas. Não se importa com eles?

Lúcifer: - A questão aqui não é se eu me importo ou não com a humanidade. Na verdade, eu me importo com eles... São dos bois que chega o leite e a carne lá de casa.

Mulher: - Como sempre... Não sei por que ainda perco meu tempo vindo falar com você.

Oriental: - Não podemos contar com o Senhor do Inferno. Isso quer dizer que estamos sozinhos...

Mulher: - ...

Lúcifer: - Realmente, não sou do tipo que lida com peões. Vocês sabem, a Aliança existe somente por causa dos recentes acontecimentos. Não importa se um dos meus está tentando me apunhalar pelas costas ou se essa terra-de-ninguém vai acabar... Tenho quem cuide disso... Certo, Raziel?

O oriental e a mulher olham para trás e a presença do Anjo é sentida, ele ocultava sua Aura Angelical ao máximo para não ser notado. Porém, após ser revelado por Lúcifer, Raziel surge por detrás de um dos pilares que compunham aquela parte da torre. Sua expressão era de imparcialidade, sem causar qualquer impressão. O Oriental logo se assegura de que os quatro estavam sozinhos ao concentrar-se nas impressões e ressonâncias celestes do espaço ao redor da torre. Raziel diz:

- Não esperava que fossemos tão queridos.

Os olhos de Raziel passam pelos três presentes analisando seus movimentos. O Oriental termina sua pesquisa e então vira-se para Lúcifer informando seu relatório:

- Ele está sozinho...

Lúcifer sorri para Raziel, eles não se esbarravam há muito tempo, mesmo que estivessem sempre na mesma festa, seus olhos não se cruzavam por séculos. Raziel continua sem expressão alguma e indaga:

- Acredito que sua alma corrupta tem crescido em devotos... Alaiah não parece estar fora do Coro, mas está aqui diante do Seol. E parece que os laços desta tal Aliança atingem até o Oriente... Será que o desespero consumiu a todos?

Ao terminar sua frase ele fixa os olhos no Oriental. Ao que sabia sobre os Orientais, seus caminhos não eram diferentes dos caminhos dos outros anjos, porém eles sabiam como se ocultar entre mortais mais do que qualquer anjo ocidental. Em muitas ocasiões, um asiático passava grande parte de sua vida ao lado de um anjo sem saber que este era, ao mesmo tempo em que seu melhor amigo, seu anjo da guarda. Lúcifer se debruça do corrimão de proteção da plataforma e olha bem para o horizonte. Seus olhos buscavam aquele que foi enviado para esta Terra para impedir o apocalipse. Ele diz:

- Você, meu irmão, sabe que não estou lutando nesta guerra. Além do mais, não quero corromper ninguém, só gosto de manter meus contatos. Afinal, não é por que saí de férias que não posso ligar para minha terra natal de vez em quando. – Ele sorri em suas ultimas palavras, seus olhos encontram Daniel e Dante no Brasil – Agora, se não estiver errado, não era para você estar ensinando ao garoto como abrir suas asinhas?

Raziel olha para Lúcifer deixando os dois outros de lado. Ele responde com certa ironia:

- Por quê está tão preocupado com ele? Está com medo de algo?

O Senhor do Inferno olha por cima do ombro para o Mistério de Deus e responde:

- Sabe que não tenho por que temer... Da mesma forma que o Demiurgo se absteve da decisão do rumo disso, eu também não quero estar na jogada. Porém, a ansiedade me faz querer participar do filme... E acredito que ele seria muito melhor se me deixasse treiná-lo.

Raziel franze o cenho.

- Você não tem demônios em demasia? Não compreendo seu fascínio por Daniel.

Lúcifer sorri, encosta o corpo na barra do corrimão e deixa o cabelo esvoaçar com o vento. Ele aparentemente brinca com as palavras:

- Não é ele... É o que ele tem. E também, preciso de outro candidato à regência. Meu favorito está tramando contra mim.

Raziel se aproxima, passa pelo Oriental e pela Anja e se põe de frente com Lúcifer.

- Você já descobriu... Ele tem causado-me problemas sérios. Será meu próximo alvo.

Lúcifer olha novamente para o horizonte e então conclui:

- Você não irá conseguir nada contra Azazel além de sua própria Obliteração. Somente Daniel poderá impedi-lo.

Raziel olha para o horizonte. Os dois se mantêm quietos por alguns segundos.

***

Ana e Ramon seguem até o final do corredor por onde Fontaine havia fugido. Eles chegam a uma outra câmara que agora fugia aos padrões das outras, sendo decorada mais comumente como um tipo de sala do que um mostruário de ossos. Eles buscam com os olhos por aquele vampiro, mas não encontram nada. Adentrando o lugar com cautelosa, os dois começam a averiguar todos os indícios para localizar o sanguessuga. Quando eles chegam ao centro da câmara uma porta se fecha atrás deles trancando-os no local. Ana logo prepara suas mãos, uma pegando um crucifixo em sua parca e a outra em guarda defensiva para um possível ataque surpresa. Ramon se concentrava para poder disparar sua Serbu Super-Shorty assim que o Vampiro surgisse. Os dois se mantêm desta forma por algum tempo, até que percebem o chão começar a se cobrir por uma densa névoa. A voz de Fontaine ecoa pelo quarto:

- Mostrarei-lhes a dor, irei destruir tudo o que vocês já foram e corromper suas almas ensinando-os o prazer que a dor pode nos conceder. Eu, Lord Fontaine, irei fazer o favor de levá-los ao inferno!

Ana e Ramon olham ao redor procurando pelo Vampiro, mas não enxergam nada além de névoa e mobília velha.

Capítulo 15 – A Fúria das Sombras

O Círculo Oculto que havia embarcado no Brasil desembarcou na França na noite do dia anterior àquela que amanhecia. Levantando junto ao Sol que nascia no horizonte, Raziel já havia se banhado e trocado para tomar o café que seria servido pelo hotel em que eles haviam se hospedado. Seu corpo de anjo não era afetado pela troca de fuso horário, como o de Ana, Ramon e Talutah. Suas vestes agora se aproximavam mais daquelas que a humanidade vestia, para poder se apresentar como um semelhante com mais facilidade. Trajando uma grossa calça de algodão cinza, uma blusa de mangas longas branca e uma parca grossa acinzentada, ele buscava fugir do frio deste início de Primavera. Sentado em uma cadeira, posicionada próxima de uma janela, Raziel observava o movimento das pessoas. Diante da Boulevard de Grenelle, do Europe Hotel Paris, ele imaginava o futuro daqueles que caminhavam sem acreditar no fim próximo. Observava a grandeza da humanidade em toda a sua minimidade e acreditava cada vez mais que deveria lutar por eles, que apesar dos olhos, ainda eram cegos à verdade.

Interrompendo seu pensamento, Ana surge do corredor que dava acesso à sala saindo de um dos quartos do apartamento alugado por eles. Ela já também havia se banhado e trocado, agora portando roupas mais grossas para suportar os oito graus de temperatura. Os dois se cumprimentam e ela senta-se à mesa. Pegando as torradas para passar da geléia de amora que estava sobre a mesa, Ana começa a indagar Raziel sobre a missão:

- Guardião, nossa missão hoje, pelo que foi adiantado durante a viajem, não parece ser tão difícil. Mas notei que você anda preocupado e um tanto reservado. Há alguma coisa que devemos saber antes de partir?

Raziel toma um ar preocupado e então olha nos olhos de Ana pronto a respondê-la:

- Não. Tudo o que foi dito é exatamente o que foi dito. Precisamos encontrar este mapa por dois motivos: o primeiro é o treinamento de Daniel; o segundo é exatamente o fato deste local ser de grande valia nas mãos dos demônios.

Ana mastigava da torrada, aguardando terminar de engolir para poder prosseguir na conversa:

- Não entendo o motivo desta cidade ser valiosa para os impuros... Desculpe minha ignorância, mas realmente não compreendo.

Raziel olha pela janela e então diz, ainda com sua atenção desviada:

- Ana, não se culpe. Nunca foi da vontade do Altíssimo que o mundo chegasse a esse ponto, muito menos que a humanidade caminhasse nesta direção. Mas, respondendo sua pergunta, esta cidade há muito foi palco de uma grande trama demoníaca para corrupção da humanidade, chegando a ser maldita em essência. Os anjos vieram dos sete céus para acabar com a festa e fizeram com que a terra se abrisse engolindo a cidade. Seu nome foi esquecido pela humanidade, mas suas ruínas subterrâneas são chamadas de Joie pelos Parisienses. Traduzido, seria algo próximo de Prazer, Deleite.

Ana fica pensativa, apesar da curiosidade lhe consumir, ela decide não perguntar sobre o motivo das ruínas serem chamadas por este nome. Não demora muito para que ela encha a boca com mais uma torrada. Raziel, por sua vez, levanta-se da cadeira e segue até a janela olhando atentamente para o horizonte. Sem dizer mais nada, ele segue para o quarto onde se acomodou durante a noite. No caminho ele cumprimenta Talutah, que havia acabado de acordar e mesmo sem banhar-se, seguia para a cozinha faminta. Ana cumprimenta a recém-chegada sem interromper sua refeição. Talutah senta-se e começa seu desjejum.

Algumas horas depois todos se encontravam prontos para partir do hotel, reunidos na sala do apartamento. Vestidos como pessoas normais se vestiriam, com a exceção de Talutah, que mesmo com o frio vestia suas roupas provocantes e curtas. Raziel olha para todos e anuncia:

- Infelizmente não vou poder seguir com vocês nesta missão. Percebi a presença de um ser à quem devo dar completa atenção. Espero que tudo saia como planejamos. Em minha ausência, Ana será a líder, então respeitem suas decisões. Que a bênção do Altíssimo esteja sempre com vocês, pois a minha sempre estará.

Ana faz uma menção religiosa quando Raziel termina seu discurso. Talutah olha para a porta inquieta enquanto Ramon recolhia sua mala, onde estava todo o equipamento necessário para esta missão. O Príncipe dos Querubins segue na direção da porta, mas não faz por abri-la, somente atravessa o tempo e espaço como é de seu costume. Ana se maravilha sempre que vê esse fenômeno. Talutah dá de ombros e diz:

- Então... vamos. Não agüento mais esse lugar... tsk... A primeira coisa que vou fazer quando voltarmos é ir à uma praia.

A bela mulher segue na frente abrindo a porta do apartamento sendo seguida pelos outros dois. Em poucos minutos eles já estavam fora do edifício, pegando um táxi até o local indicado por Raziel. O Place d’Enfer, ou Place Denfert-Rochereau como é chamada desde o fim da Guerra Franco-Prussiana, localizado no bairro Montparnasse foi o lugar escolhido para a busca daquele que mantinha o mapa da Ruína. O Círculo Oculto chega ao lugar e encontra algo muito peculiar. Uma linda praça com algumas árvores e um ar turístico encantador.

Ana e Talutah enxergam a maravilha do lugar enquanto Ramon não tira o ar profissional do rosto, retirando suas coisas da mala do carro e pagando o motorista pela corrida. Os três se aproximam da entrada e se deparam com muitas pessoas, afinal era um ponto de grande beleza. Ana olha para Talutah e diz:

- Por favor, mantenha-me informada de qualquer ser que identificar. – Então vira-se para Ramon e conclui – Raziel disse que vamos ter que entrar nas galerias, separe o material de iluminação.

Os dois confirmam as ordens de Ana. Apesar de passar grande dependência e uma aparência inofensiva, a líder deste grupo era centrada e mantinha toda a ordem necessária para uma liderança. Os três seguem para dentro da praça principal, em busca da entrada das catacumbas. Não é muito difícil encontrá-la, pois o acesso era completamente sinalizado por placas e agentes de turismo. Os três se preparam, sem chamar atenção, e seguem escadas abaixo.

O lugar era nefasto, sombrio por demais. Ossos humanos espalhados como se decorassem o lugar, cheiro de morte e um monte de turistas tirando fotos. Ana se sente mal logo que pisa dentro daquele local precito enquanto Talutah sentia-se desorientada ao se guiar pelo olfato aguçado. Ramon logo aponta para um corredor bloqueado com faixas e uma placa com a inscrição “Interdit”. Observando bem a atenção dos presentes, eles aguardam até haver um momento de distração e adentram o local proibido.

Não demora muito para que a galeria se perca completamente em conceitos morais. Esta parte do lugar era proibida à visitação, não por ser tão funesta, mas por influência dos seres que viviam no local dentro da sociedade humana. Se aprofundando um pouco mais na câmara final deste corredor, o círculo oculto encontra uma porta feita de algum metal bloqueando o resto das catacumbas. A iluminação era baixa devido a proibição de turistas nesta parte, mas devido a luz das lanternas que Ramon trouxera em sua mala, tudo se tornava mais claro. Diante daquela porta, Ramon começa a mexer com suas habilidades, usando de ferramentas necessárias para cruzar o ádito bloqueado. Talutah começa a farejar algo e então avisa seus companheiros:

- Ana, encontrei algo. Este cheiro... não é tão antigo quanto parece. Se eu não me engano, aqui tem corpos que não moram mortos há mais de uma semana. Além disso, posso sentir o cheiro de sanguessugas.

Ana olha para Ramon que tentava abrir a porta. Ela não gostava de enfrentar vampiros, mas estava diante de evidências que confirmavam seu temor. Sem esperar que o companheiro termine sua tarefa, ela mexe na mala que ele carregava e pega uma adaga, duas orbes de água benta e um crucifixo. Após guardar estes itens consigo, ela pergunta:

- Ramon, falta muito?

Ele nega com a cabeça, chacoalhando-a para os lados. Por fim, a porta se abre com o som da tranca sendo superada pelas ferramentas usadas pelo especialista. Talutah põe a mão sobre a porta e diz:

- Eu abro. Cheguem para trás.

Os dois se afastam enquanto ela força a porta para frente desobstruindo o caminho. Do outro lado havia um corredor com uma bifurcação. Não demora muito para Talutah expressar-se de forma inquieta enquanto fareja algo no ar. Ana analisa o lugar e nota que havia marcas de sangue fresco no chão, logo aponta para mostrar aos companheiros. Ao sentir o odor “guia”, Talutah aponta para a direita dos caminhos da bifurcação. Os três seguem deixando a porta aberta atrás deles.

O corredor que se segue é coberto por diversos ossos humanos cravados na terra como azulejos decorando uma cozinha. No final dele eles encontram uma grande câmara contendo uma outra saída em sua extremidade oposta. Ana pressente algo ruim enquanto Talutah sente o cheiro do mesmo mal. Ramon, vendo a expressão das duas começa a retirar sua Serbu Super-Curta de dentro da mala. O som dos recém-chegados começa vindo de trás, do corredor que dava acesso à câmara, mas também podiam ser ouvidos ecoando de dentro da câmara. Talutah começava a sentir seu ódio mortal por esse tipo de criatura. Eles começam a surgir de todos os cantos, saindo de esconderijos nas paredes por detrás da “decoração” de ossos, por trás do grupo e um pela abertura à frente. Em aspecto, todos eram muito parecidos, pele pálida, garras no lugar de unhas, caninos alongados e expressão predatória. Aquele que surge do lado oposto ao grupo aparentava ser seu líder, dizendo:

- Quem são os vivos que incomodam os mortos?

Ana põe-se à diante e responde:

- Não importa quem somos. Estamos à procura de Fontaine.

Aquele vampiro olha ao redor acenando para que o círculo oculto veja que está encurralado e então diz:

- Acredito que vocês não possuem escolhas aqui... Porém, responderei suas perguntas caso respondam as minhas. Mas não garanto que poderão usufruir deste conhecimento, pois não sairão daqui com vida.

Talutah rosna para ele e resmunga para Ana:

- Me dê a permissão... não agüento mais esse cheiro podre...

Ramon olha para Ana aguardando o veredicto dela. A líder ignora a raiva da companheira e por hora diz:

- Então façamos como quer... O que você quer saber?

O Vampiro pergunta:

- Quem são vocês? E como chegaram aqui?

Ana olha de canto e começa a contar quantos mortos sugadores de sangue estavam próximos deles, mas disfarça respondendo o líder deles e aproveitando para fazer sua pergunta:

- Somos Caçadores de Tesouros e ouvimos boatos de que o Plan des Ruines de Joie estava escondido por aqui... Você é Fontaine?

O Vampiro sorri maldosamente e diz:

- Somos os Fontaine. Agora me diga... quem disse que o map...?

Antes mesmo de aquele ser conseguir completar sua pergunta Ramon dispara com sua Serbu no meio de seu peito. Os fragmentos do disparo ferem toda a região superior do corpo do vampiro jogando-o para trás no chão. Os outros vampiros começam a se preparar para atacar quando Ana vira-se para Talutah e diz:

- Eu liberto-a do Selo da Carne! רע¹

Um tipo de tatuagem luminosa surge no pescoço de Talutah e logo em seguida perde o brilho deixando somente o contorno negro no lugar. Seu corpo começa a se metamorfosear-se adquirindo mais massa muscular, fazendo-se crescer pêlos negros e tomando uma forma que lembra um grande canino, como um lobo. Suas roupas curtas aparentemente eram feitas de uma liga especial, já adotada por ela há tempos para esse tipo de movimento, pois se esticam como se fossem elásticas sem se romper. Assim que seu corpo está “completo” em sua transformação, ela uiva assustando todos os vampiros. Como um animal faminto, Talutah urra:

- Bestas do submundo... Venham para a mamãe...

Ana e Ramon começam a se adiantar para pegar o líder vampiro, que já se levantava e fugia pela entrada de onde veio às pressas. Enquanto isso, a mulher-lobo, Talutah, se enfurecia cada vez mais chegando a babar diante de um grande desafio. Quando seus ouvidos confirmam a distância de seus companheiros, ela decide partir para sua natureza sombria: Matar. Os vampiros começam a atacá-la sem piedade, com garras e mordidas na tentativa de sugar seu sangue, mas BlackWolf não se deixa levar pela dor, que aparentemente ela nem sente.


________________________

¹ רע significa Rá, que traduzido do Hebraico quer dizer literalmente “Mau”.

Capítulo 14 – O Esperado Encontro

Daniel tremia de medo e de pavor. Ele não sabia o que fazer com aquelas armas, nunca havia atirado na vida, mas agora ele deveria usá-las pois Dante estava em perigo. Sua vida havia sido bem pacata para ele descobrir de uma hora para outra que deveria entrar em uma guerra contra demônios. Ele finalmente destrava as armas e tenta mirar naquela besta, mas Dante estava muito perto do inimigo para ele disparar, podendo atingir o amigo. Neste momento Daniel vê Dante começar a gargalhar freneticamente e o demônio recuando vagarosamente.

Dante estava com um buraco no corpo e mesmo assim gargalhava. Suas palavras haviam tocado o demônio que não esperava por isso. Bavorí se sentindo confuso diz:

- Que merda é essa? Por que você não morreu quando eu destruí parte de seu estômago?

Dante sorri maldosamente e então diz:

- Você não me ouviu? Você não pode matar a Morte!

O demônio olha para o corpo de Dante, que ainda ferido e sangrando, se movia sem prejuízos apesar da aparência fragmentada. Enfurecido com o que estava vendo, Bavorí parte para mais um ataque, desta vez usando sua fúria como arma e aumentando ainda mais sua velocidade com esta ira. Ele desfere dois socos e depois volta com uma das mãos rasgando o rosto de Dante com suas garras. Uma joelhada no estômago ferido e depois uma cabeçada em meio à testa dele. Dante cai para trás aparentemente atordoado. Daniel ao ver a cena percebe que agora era mais do que hora de atirar, afinal Dante não estava mais colado do inimigo. E se isso continuasse assim, o companheiro poderia ser morto por aquele monstro. Ele leva as duas armas à direção do alvo, mirando precariamente e então disparando com elas ao mesmo tempo. Suas mãos são forçadas contra a direção do disparo, mas ele segura o impulso causado. O demônio sofre o impacto dos dois projéteis e então olha na direção de Daniel. Seus olhos queimam como fogo, mas antes que ele possa fazer algo, o jovem anjo começa a disparar uma seqüência de tiros desesperados, errando uns e acertando outros. Bavorí se distancia alguns metros de Dante devido o impacto das balas.

Daniel acreditava que mataria aquilo com as armas, mas quando ele percebe, descarregou toda a munição no corpo do demônio e este ainda se mantinha de pé. Na verdade, Bavorí sorria a cada bala recebida em seu corpo, vendo-as atingir sua pele demoníaca e caindo em seguida no chão. Daniel se assusta com a rigidez daquela pele infernal e acaba deixando as duas pistolas caírem no chão enquanto seu corpo se paralisava de medo. O demônio desaparece e reaparece na frente de Daniel, pegando-o pelo pescoço e erguendo seu corpo do solo firme. A dor e a falta de ar começam a sufocar o jovem de uma forma em que o desespero e o pânico passaram a fazer parte dele. A felicidade com que o demônio torturava o corpo de Daniel era tamanha que ele deixava escapar um sorriso quase orgástico. Ele sussurra:

- Você vai morrer...

Daniel sente os movimentos do corpo se enfraquecendo, seu coração batendo rápido na tentativa de levar sangue ao cérebro que estava sendo privado pela força em que o demônio segurava seu pescoço tapando quase que completamente suas veias. Seu pulmão buscava o ar que não chegava. Era assustador passar por um sufocamento, algo que ele não conhecia. Mas para sua surpresa, o corpo de Dante se ergue com uma expressão bem irritada. O homem de preto fala alto para o demônio:

- Quem disse que nossa conversa acabou? Eu não posso dar mole que você já sai “cantando” os outros? Ah sua putinha, volta aqui pro seu dono!

Bavorí olha para trás, ainda sufocando Daniel, e franze o cenho. Era incrível como Dante ainda caminhava após aquilo tudo. Logo que o enxerga de pé, o demônio larga o jovem no chão e vira-se para focar seu alvo. Daniel busca ar com toda a força de seus pulmões, ele leva as mãos até o pescoço como se o alisasse. Aos poucos seu corpo vai se recuperando.

- Vejo que você ainda está vivo... – diz o demônio para Dante – Mas isso não vai se prolongar. Não vou deixar nenhum cabelo seu inteiro desta vez.

Dante faz-se gargalhar pondo uma das mãos na barriga. Isso irrita o demônio de uma forma que ele acaba sumindo novamente e reaparecendo diante dele com suas garras prontas para perfurar-lhe o corpo. Todavia o corpo de Dante desaparece como se fosse apagado no próprio ar. Bavorí se sente confuso e olha ao seu redor procurando por ele. Tanto o demônio quanto o jovem anjo percebem Dante de pé, com seu manto negro dançando no vento e sua cabeça coberta pelo capuz que nele continha. Nas costas de Dante havia uma enorme foice de lâmina negra com o cabo feito de ossos. Bavorí arregala os olhos, ele já havia visto aquela foice uma vez no inferno. Daniel assusta-se com a repentina aparição do companheiro ao seu lado, agora com um ar mais sombrio do que normalmente ele passava ao vestir-se completamente de preto. Dante, ainda com a cabeça abaixada e o capuz cobrindo-a fazendo com que seu rosto seja oculto pela escuridão, diz:

- Você não imagina o que eu passei após esses quinhentos anos... Bavori, eu enganei a morte e ainda roubei sua foice. Agora ela agoniza no inferno enquanto eu... eu sou a nova Morte.

O demônio sente frio. Não um frio comum, o frio que os corpos dos vivos sentem no momento de suas mortes. Ele, agora receoso, diz:

- Então é por isso que você ainda vive? Maldito...

Dante ri e responde:

- Desde o dia em que me traiu, estou à procura de uma forma de me vingar... Hoje é o dia e você não vai escapar, pois a foice da morte lhe aguarda.

Sem dizer mais uma palavra, Dante parte em toda velocidade para cima do demônio. Era incrível como seu corpo podia ser tão rápido. Nenhum humano jamais atingiu aquela velocidade sem qualquer equipamento automotivo. Bavorí se esforça para se esquivar do golpe da foice de Dante, mas logo se preocupa com a volta da lâmina, onde Dante desfere outro voraz ataque. Daniel olha atentamente os movimentos dos dois, Dante atacando e atacando, um golpe após o outro, enquanto o demônio usava toda a sua atenção para tentar se esquivar dos ataques que eram rápidos demais. Aos poucos a vista do jovem anjo começa a se acostumar com aquelas energias e ele passa a enxergar melhor. Daniel se vê novamente enxergando mais do que os humanos estavam acostumados a ver, assim como em sua forma angelical, ele via com detalhes os movimentos dos dois, mesmo que fosse de uma velocidade imensa comparada à média humana.

Com o tempo, o corpo do demônio vai se cansando e Dante acaba atingindo-o de raspão em um de seus deslizes. Bavorí desfere seu primeiro ataque após se atingido para afastar o Ceifador. Dante salta para trás dando ar para o demônio. Ele diz:

- Ahahaha! Esse é todo o seu poder? Pensei que fosse me cansar... Acho que nem transpirei.

Bavorí se sente humilhado e então libera toda a sua aura demoníaca fazendo com que seu corpo fosse tomado por ondas malignas. Suas garras aumentam e de seus braços e costas brotam ossos pontiagudos. Ele, agora com uma face mais demoníaca, diz:

- Um verme como você não pode me humilhar tanto assim! Você vai morrer agora!

A besta demoníaca salta na direção de Dante com toda a sua raiva, agora mais rápido e mais agressivo. O Ceifador encontra dificuldades de esquivar-se do golpe dele, mas como seu estilo de combate era mais ofensivo, logo procura uma brecha para revidar. Os dois começam o combate defendendo e atacando, aparando e devolvendo. Dante leva alguns cortes de raspão das garras do demônio, que consegue esquivar de todos os ataques do ceifador. Daniel observava tudo querendo fazer algo, mas mesmo que se concentrasse ele não encontrava sua aura angelical. Bavorí logo encontra um ponto cego na defesa de Dante e ataca com sua garra ferindo fundo o ombro dele. Tão logo é atingido, Dante perde parte do movimento de um dos braços e abaixa a foice, deixando a abertura necessária para o demônio desferir outro ataque contra seu outro ombro. Logo em seguida, a besta salta e chuta o peito do ceifador jogando-o contra o solo, batendo as asas na intenção de planar e evitar cair da manobra. Com Dante caído, Daniel arregala os olhos e se levanta pensando em algo para fazer. Bavorí fala para o ceifador:

- Pode ter roubado a foice da morte, mas continua o mesmo verme de sempre. Sinto pena de você...

Caído, Dante ri e responde:

- Pena? De mim?! Essa foi boa... – ele cospe sangue no chão e levanta a cabeça fazendo o capuz cair para trás revelando sua face novamente – Eu fico pensando no que você esteve metido por todo esse tempo, pois não teve oportunidade de mudar em nada sua metodologia de combate... Parece um cego.

O corpo de Dante se desfaz em sombras pelo chão, percorrendo a areia em busca de um abrigo do Sol matutino. O demônio, assustado volta-se a olhar o seu redor procurando pelo ceifador e se surpreende ao notar a lâmina da foice parada à milímetros de sua garganta. Dante estava atrás dele com a arma pronta para decapitá-lo.

- Você não muda. Continua o mesmo arrogante e ignorante de sempre. Por toda sua vida você menosprezou seus inimigos, agora vai morrer por isso.

O demônio engole em seco. Precisava fazer algo para garantir sua vida e virar o jogo. Enquanto isso Dante olhava em seus olhos, como se anunciasse sua morte sem desferir nenhuma palavra. O demônio, ao contrário do que imaginado, sorri maliciosamente e diz:

- Você acredita mesmo que pode me matar com isso? Essa faquinha de cortar pão?

Dante olha bem nos olhos do Demônio percebendo que algo não está certo. Há pouco ele estava tremendo e agora estava confiante demais. Então, sem hesitar, ele puxa o cabo da arma fazendo com que a lâmina atravessasse o corpo do demônio arrancando-lhe a cabeça. Com um sorriso no rosto Dante diz:

- Como eu pensei... era um blefe.

Porém, tanto Dante quanto Daniel percebem que o corpo do demônio começa a se transformar e assume a forma de um dos infernalistas que estavam mortos na areia. O demônio trocou de corpo com um deles e desapareceu fugindo. Dante bufa quando percebe o feito daquela besta infernal. Ele volta-se para Daniel e diz:

- Raziel vai ficar uma fera quando souber que deixamos ele fugir...

Daniel olhava para Dante desconfiado. Dante emanava uma aura demoníaca com aquela foice. O jovem ficava se perguntando o por quê dele ter sido escolhido por Raziel para esse grupo que se dedica em acabar com demônios e o fim do mundo. Mas não querendo julgar, Daniel somente se cala ocultando seu pensamento. Os dois olham para a bagunça que estava o lugar e pensam no impacto que ele vai causar à qualquer visitante da praia. Daniel diz:

- Essa é a parte chata do trabalho?

Dante olha para ele fazendo sua primeira piada e então sorri batendo em seu ombro com a mão.

- Você está pegando o jeito da coisa. Vamos, temos que levá-los para a pickup e depois procurar um lugar para enterrá-los.

Juntos eles começam a limpar aquela sujeira.

Capítulo 13 – O Filho da Morte

No dia seguinte Daniel desperta com o chamado de Dante. Ele abre os olhos lentamente enquanto suas memórias começam a retornar aos poucos. O cansaço era tanto que ele acabou por nem sentir a noite passar e nem mesmo sonhou. Com os olhos cansados ainda ele visualiza Dante vestido com um manto negro longo e luvas nas mãos que lhe sacudiam em seu colchão. Sem demora Daniel responde:

- Estou levantando... espera! Não precisa me sacudir...

Dante sorri maldosamente e diz:

- Não, você é muito lerdo! Além do mais, só ficamos nós dois. Raziel e os outros saíram mais cedo...

Daniel pula da cama com a revelação de Dante.

- Como?! Eles se foram e nos deixaram?

Dante estende a mão para ajudar o jovem a se levantar da cama enquanto responde:

- Sim. Raziel disse que tinha uma missão para nós dois ainda aqui na mansão. Ele seguiu em frente com Ramon, Ana e a BlackWolf. Se liga, vai se arrumar logo que eu acho que já estamos atrasados... vou lhe explicar a missão no caminho da praia.

Ao finalizar sua frase Dante exibe-se frisando as sobrancelhas. Daniel se levanta com a ajuda do amigo e segue até o armário para pegar sua roupa. Dante se posiciona na janela olhando a paisagem, uma bela vista de toda a região oceânica da cidade de Niterói.

Ao sair do banho e terminar de se vestir ainda no banheiro da suíte, Daniel retorna ao quarto onde Dante ainda admirava a paisagem. Curioso, ele pergunta:

- Dante, o que vamos fazer?

Este olha para o jovem e depois olha para a cama dele. Daniel segue o olhar e nota que em cima de sua cama havia duas pistolas. Surpreso com as armas ele se mantém quieto, Dante se adianta para explicar:

- Sabe manuseá-las? Se não, vai ter que aprender. Vamos para o carro... temos que caçar uma Serpente do Inferno e seu grupinho.

Daniel não possui nem mesmo tempo para responder, pois Dante começa a sair do quarto apressando ele. O jovem pega as duas armas totalmente sem jeito e começa a seguir o companheiro. Os dois seguem até a garagem da mansão onde encontram-se alguns carros. Dante olha para todos por algum tempo como se escolhesse um deles e por fim decide pegar a Pickup negra. Ele entra e é seguido pelo jovem anjo. O grande veículo segue para fora da mansão onde a conversa entre eles prossegue.

Daniel vira-se para Dante, ainda com as pistolas nas mãos e diz:

- Annn... Dante. Poderia me explicar algumas coisas...?

Dante ri quando Daniel fala com ele completamente perdido. Ele estava acostumado a trabalhar com Ramon ou com Talutah que já eram costumados com o tipo de serviço e que esqueceu de explicar alguns pequenos detalhes. De olhos atentos ao volante ele responde:

- Simples. Você vai guardar essas pistolas na cintura, entre seu corpo e a calça...

Ele encara o jovem até que este guarde as armas. Após o feito, Dante continua:

- Bem, vamos para uma praia onde está havendo uma invocação. Vou ver um velho conhecido meu e mandá-lo de volta para casa. Segundo Raziel, se não terminarmos esta missão, o Serpente que vamos caçar vai matar o alguém importante.

Daniel coça a cabeça e então pergunta:

- Serpente? Não estou entendendo...

Dante olha para ele sério e então volta a atenção ao trajeto.

- Olha só... você tem que comprar um dicionário de termos demoníacos. Heheh... Serpente é uma classificação antiga, mais ou menos de uns quinhentos anos atrás, para um Demônio que não é novato no inferno, mas que também não é de casta alta. Como eu vou dizer? Existem mais de dez classificações de casta, Serpente é a terceira se eu não me engano. Eu sozinho devo dar conta dele, mas o Raziel queria que você viesse para aprender.

Daniel começava a entender. Isso o assustava um pouco, pois ele lembrava da dor que sentiu quando Lúcifer liberou seu poder lançando aquelas criaturas sobre seu corpo. O nervosismo começa a afetá-lo, mas o susto da risada de Dante quebra seu temor. Confuso Daniel pergunta:

- O que foi Dante?

Após algumas tentativas de se acalmar da gargalhada, Dante diz:

- Você... tá nervosinho. Só falta se mijar.

Daniel olha torto para o companheiro que não desistia de gargalhar de seu temor. Chateado com a situação, Daniel volta-se para a janela do veículo e se mantém quieto até o final do trajeto. Dante não fala mais nada, porém tenta prender o riso durante um bom tempo.

Não demora muito para que eles cheguem no local indicado por Raziel. Após entrar em Camboinhas, um bairro da região oceânica da cidade de Niterói, e seguir por boa parte da rua Professor Carlos Nélson Ferreira, o carro segue pela rua Desembargador Nicolau Mary Júnior até chegar ao seu fim. Daniel percebe que aquela rua sem saída terminava de frente para um terreno com vegetação baixa. Dante desce do carro e é acompanhado pelo jovem. Do lado de fora Daniel pode ver melhor que há pelo menos uma trilha entrando naquele matagal e então decide perguntar para Dante:

- É aqui?

Dante aponta para o mato onde havia uma trilha e diz:

- É para lá. Este lugar possui uma fina brecha na proteção que nosso mundo tem do inferno. Ou seja, um lugar que é afetado pela destruição do pecados humanos destes porcos que mexem com forças demoníacas. Raziel disse que nós precisaríamos nos apressar quando chegarmos, pois o demônio que vai ser invocado vai matar os invocadores e se libertar para este mundo. Temos que impedir que ele seja invocado e se chegarmos tarde, temos que enviá-lo de volta ao inferno. Entendido?

Daniel confirma com a cabeça. Dante conclui:

- As duas pistolas estão travadas. Pegue-as. – ele aguarda Daniel pegá-las e as toma da mão dele mostrando como manuseá-las – Aqui ficam as travas, destrave agora que talvez você precise utilizá-las. Aqui você prepara a arma e no gatilho dispara. Mire antes de atirar por aqui... se for no desespero, não mire, só encha a lata do demônio de balas. Não vai matá-lo e nem feri-lo, mas vai retardar ele um pouco para eu acabar com ele. Demônios não morrem com tiros, então você é só suporte meu, não ouse entrar na frente e fique somente à distância.

Daniel confirma mais uma vez. Dante olha desconfiado para ele, mas decide prosseguir. Olha no relógio de pulso e então faz uma expressão negativa. Por fim se adianta seguindo enquanto diz:

- Estamos atrasados em alguns segundos...

Ele vai à frente entrando no mato enquanto Daniel o acompanha logo em seguida. Não leva muito tempo até que a trilha comece a descer e as árvores que estão no caminho comecem a revelar uma praia quase deserta, se não fosse pela formação de quatro seres posicionados nas quatro direções cardeais em cima de um círculo desenhado na areia. Daniel olha curioso enquanto Dante apressa o passo. Os dois começam a se camuflar entre a vegetação, se aproximando e observando o grupo que realizava uma invocação.

Os quatro jovens começam a realizar uma série de gestos e formam um tipo de dança enquanto entoam um tipo de mantra em uma língua estranha. Dante segura no ombro de Daniel e diz em tom baixo de voz:

- Chegamos tarde, a invocação está no fim. Vamos entrar em ação agora. Qualquer sinal que eu dê para você é motivo para descarregar no demônio, certo?

Daniel confirma:

- Certo!

Dante volta-se para o grupo e conta consigo mesmo até três. Não demora muito para o pequeno grupo de infernalistas serem surpreendidos pelo membro do Círculo Oculto vindo correndo do meio do mato. Eles se separam saindo do círculo no momento em que em seu centro uma luz avermelhada começa a surgir. Daniel olha para aquilo com atenção, revezando sua visão entre a luz avermelhada e Dante.

Um ser começa a surgir no centro do círculo, se formando de forma singular, como se houvesse um par de cortinas invisíveis cobrindo a realidade e ele atravessasse no meio delas. Seu corpo era igual ao de um homem se não fosse as asas de águia em suas costas e o rabo singular demoníaco. Seus cabelos curtos eram tão negros quanto seus olhos sem íris, sua pele pálida refletia a luz do sol nascente enquanto seu sorriso corrompia a alma dos mais puros. Ele grunhe algo como se fosse uma fera, mas logo se espreguiça como alguém que acabou de acordar. Por fim diz:

- Ah! Este mundo repugnante de novo?

Tão logo Dante avista a criatura, ele dispara em sua direção na tentativa de impedir que o Demônio matasse seus invocadores. Mas isso não é possível pois a besta mal olha ao seu redor e já encontra o círculo de invocação e proteção “quebrado” em um de seus pontos cardeais. Neste ponto havia um dos invocadores infernalistas caído. As asas da criatura batem como se ele fosse levantar vôo, mas isso não acontece. Ao invés de voar, ele dispara penas com pontas tão rígidas que perfuram o corpo de todos os infernalistas caídos. Ele mesmo mata seus invocadores.

Dante se enfurece e então decide tomar uma atitude mais rude. Ele vira-se para o demônio e acena chamando-o com o dedo indicador da mão direita enquanto fala:

- Hey! Bavorí, sua Serpente maldita, está lembrado de mim...?

O Demônio olha na direção de Dante e então arregala os olhos dizendo:

- Não... Dante? O que você está fazendo aqui? Não era para você ter morrido há mais de quinhentos anos?

Dante sorri e diz:

- Talvez... mas parece que a Morte não tem feito o seu trabalho direito...

O demônio prepara as garras e sorri dizendo:

- Então eu vou realizar esse servicinho... e ainda vou me vingar pelo que você fez!

Dante dá de ombros e rebate:

- Você não foi capaz quando eu quebrei o contrato, será que será capaz agora?

Bavorí desaparece e reaparece na frente de Dante com seu braço atravessando o abdômen dele. Daniel se espanta com a velocidade do inimigo e chega a se embaralhar para destravar as armas, então volta a atenção aos dois percebendo que Dante cuspia sangue enquanto erguia o braço dando o sinal para que ele disparasse.

O corpo de Dante estava seriamente ferido e o demônio fazia questão de girar a mão rasgando mais ainda seus órgãos. Este ser infernal ria enquanto acabava com mais uma vida. Mas para a surpresa dele, Dante gargalha como se não estivesse sentindo dor alguma e grita:

- VOCÊ NÃO PODE MATAR A MORTE!

Capítulo 12 – Escolhida por Deus

Daniel ficou pensativo com as palavras de Raziel. Mas não demorou muito para perguntar?

- Raziel, se você sabia de tudo isso antes mesmo de acontecer... por quê formou este grupo? Digo, o que nós temos de especial para sermos escolhidos?

Raziel não pensa muito para responder, ele somente olha para todos rapidamente e por fim começa a fazer sua confissão:

- Você é mais do que óbvio, Daniel da Ordem dos Principados. Você se escolheu... Mas cada um aqui, fora nós dois, tem um motivo forte para lutar contra todo o mal que rasteja para envolver esse mundo nas trevas. Esses motivos podem ser compartilhados depois... acredito que agora estamos mais preocupados com o modo em que vamos começar o combate...

Dante afirma quando Raziel termina de falar e se levanta para tomar a palavra antes que alguém se pronunciasse:

- Exatamente, eu estava pensando nisso Chefinho... Mais exatamente, como você acha que vamos poder entrar neste conflito?

Raziel sorri e ajeita o cabelo tirando uma mecha que escorregou para frente de seus olhos, jogando-a para trás da orelha. Ele responde com serenidade na voz:

- Já pedi para parar de me chamar assim... Dante, todos nós temos algo que o Altíssimo nos concedeu para poder lutar até o fim que é um pedaço de sua grandeza. Vocês chamam isso de Espírito Santo, alma, entre outros. Além disso, com a determinação de vocês, podemos treinar Daniel para que ele aprenda a usar a Aura dele... Mais especificamente, nós vamos começar a limpar o mundo de seres que foram criados por demônios ou que simplesmente surgiram com alguns pecados da humanidade. Os vampiros, os Espectros, todos estes seres. Vamos começar pela manhã...

Talutah descruza suas pernas e invertendo a posição em que elas se encontravam, volta a cruzá-las. Inquieta ela diz:

- Raziel, nós não somos poucos para este serviço?

O anjo vira-se para ela ao ouvir sua voz. Confirma com a cabeça respondendo-a, mas completa com as palavras posteriormente:

- Sim. Mas essa é a nossa vantagem. Não seremos descobertos tão cedo... Poucos sabem realmente que estou na Terra, menos ainda que Daniel está, ou onde está. Vamos agir de modo sábio, operando em pequenas missões que afetaram grandes grupos demoníacos. Isso nos dará vantagem quando eles começarem a reparar as perdas. Se chegarmos com um exército, logo eles perceberão nossas intenções. Há muito adverti os Céus, mas não me deram ouvidos... Agora está na hora de usar da sabedoria e não do poder de destruição.

Ramon olha para Raziel com preocupação e pergunta:

- Então vamos usar do que temos para agir à surdina? Certo... Mas quanto a Daniel, que tem a Aura Angelical selada? Como ele irá agir neste grupo?

Raziel sorri novamente, eles estavam entendendo bem e pareciam unidos. Contente, ele responde:

- Daniel irá treinar junto à cada um de vocês, aprendendo tudo o que vocês sabem. Para quando estiver pronto ele poder decidir algo que irá mudar sua vida radicalmente. Neste dia, ele irá lutar ao meu lado ou contra mim. O mundo continuará ou perecerá dependendo da escolha que ele tomar.

Daniel começava a suar frio. Estava confuso com tanta informação e pouco conhecimento. Mas ele não desiste, decidindo averiguar mais concretamente o que Raziel quis dizer, ele pergunta:

- Que tipo de decisão é esta?

Raziel olha para o jovem e diz dramaticamente:

- Você possui o livre arbítrio agora que é humano. Quando anjo, você decidiu lutar pela humanidade, enquanto for humano, poderá voltar em sua decisão quando quiser... Além do mais, qualquer pecado pode quebrar uma virtude, assim como o oposto também é válido. Em outras palavras, você vai ter que ter certeza do que quer, mesmo quando tudo aparentar ser simples demais até quando tudo o que você possa enxergar não passe de névoa em meio à noite sombria.

Raziel abre os braços e acena para que todos levantem-se. Ele finaliza dizendo:

- Por enquanto, isso é tudo o que eu tenho a dizer. Espero que vocês estejam dispostos amanhã pela manhã, pois vamos nos preparar para nossa primeira missão.

Ele vira-se e sai do local deixando todos à vontade. Raziel sobe para seu quarto. Talutah é a primeira a se levantar, inquieta, seguindo até o corredor. Ela anuncia:

- Qualquer coisa tô no meu quarto. Não me incomodem se não for à pedido de Raziel.

Em seguida ela sai e segue para o segundo andar. Ramon e Dante se entreolham. Dante segue até Daniel e aguarda que este termine de levantar-se. Ramon sai da sala. Dante diz:

- O inferno está lá fora... amanhã irá conhecê-lo mais intimamente. Está preparado?

Ele leva sua mão até o ombro de Daniel, que a sente com um peso enorme após aquelas palavras desanimadoras. Ana olha curiosa para Daniel enquanto vê Dante se retirar sem aguardar a resposta do jovem. Os dois ficam sozinhos na sala, ela a observá-lo e ele refletindo sobre tudo o que foi dito. Esta posição se permanece por alguns poucos minutos até que Daniel se dá conta de que está sendo observado por Ana. Ela fica rubra ao perceber que acabou encarando-o. Por fim ela diz:

- Iluminado... quer que eu lhe traga algo para comer? Ou deseja descansar?

Ele fica quieto imaginando um motivo para ela ser desta forma, oferecendo-lhe conforto sem nem ao menos conhecê-lo direito. Sem pensar muito ele chega a pensar no fato dele ser um anjo, mas mesmo assim não imagina o motivo dela tratá-lo tão atenciosamente bem. Por fim decide perguntar algo que o incomodava:

- Ana... por que você está aqui? Digo, que caminhos lhe trouxeram à este lugar?

Ela se aproxima e então tira um cordão oculto em sua blusa. Nele havia um tipo de broche que ao ser aberto revelava duas fotos em cada uma das partes em que foi divido. Numa delas havia a imagem de cristo crucificado e na outra uma criança. Ela sorri e diz:

- Quando mais jovem, tive um filho com um homem que me largou ao saber que eu estava grávida. Eu não tinha responsabilidade quando engravidei, ainda era adolescente e acreditava que o mundo era mágico. Foi quando conheci a dor e a felicidade, mesmo sem condições eu continuei e tive o Miguel. Enfrentei a vida e criei meu filho sem um pai, mas o mundo o tirou de mim. Não o mundo criado por Deus, mas este mundo tomado por demônios. Eu vi o mal nos olhos dele... Quando Miguel foi levado, eu prometi a mim mesma que o traria de volta. Fiz de tudo para encontrá-lo, mas não tive frutos. Então conheci um senhor que me apresentou à um grupo incomum de religiosos. Eu aprendi a convocá-los, aprendi a enviá-los de volta ao inferno e aprendi a me defender... Desde então continuei minha caminhada na busca do meu filho. Neste caminho que segui, conheci Raziel e ele me ofereceu ajuda. Desde então estou sempre ao lado dele. A única coisa que me dá forças e me guia, é a esperança.

As lágrimas começam a brotar nos olhos de Ana. Daniel sente fundo as mágoas dela e acaba por nutrir da mesma decisão de Raziel. Ele segue na direção dela e a abraça forte. Ana não entende a reação de Daniel até que este lhe diz:

- Não se preocupe. Eu também vou lhe ajudar!

Ana sente seu coração bater forte. Ela retribui o abraço. Daniel sente seu corpo se paralisar e sua mente se nubla por alguns segundos. Ele é pego por um flash de uma lembrança reprimida.

-*-*-*-*-*-*-*-*-FLASH DE MEMÓRIA-*-*-*-*-*-*-*-*-

Daniel se encontrava nas nuvens observando a Terra girar. Ele gostava da visão que tinha de seu posto de vigia. Estava encarregado de vigiar uma área onde havia a suspeita da presença de demônios. Porém, por alguns segundos ele se distrai olhando a agitação da vida humana e não percebe seu líder Haniel chegando.

- Daniel, como está a sua área?

Ao perceber a chegada de seu superior, rapidamente Daniel se ergue e repassa o relatório:

- Não houveram apresentações de rastros demoníacos neste setor, Senhor.

Haniel fica contente com o que ouve e então agradece. Por fim ele abre suas belas asas e deixa o lugar seguindo para a próxima área onde encontraria outro principado. Daniel se alivia por não ter desapontado seu líder e volta à sua “patrulha”. Ele fica horas e horas olhando a humanidade que acaba se perdendo novamente.

Algumas horas depois Daniel sente uma fraca presença demoníaca. Ele tenta localizar diretamente dos Céus, pois tinha ordens para não deixar seu posto caso não fosse uma situação emergencial. Não encontrando mais nada ele passa a ficar mais atento. Porém a beleza de uma humana lhe chama a atenção. Ela era linda como os anjos. Ela ainda era considerada uma criança por ser tão jovem, aparentando seus 15 a 17 anos. O mais intrigante era esta criança carregar outra criança nos braços. Daniel fica admirado com a beleza de ambas as crianças.

***

Alguns dias depois dois de ter visto aquela menina carregando uma criança em seu colo, Daniel se recorda dela enquanto escrevia seu relatório à Haniel. Ele deixa escapar um sorriso enquanto recorda-se do evento. Mas para sua surpresa Metatron surge atravessando a porta de luz que dava acesso ao seu setor. A Voz de Deus lhe diz:

- Daniel, tenho uma mensagem do Altíssimo para você. Ele diz: “Aquele que caminha junto à humanidade terá ao seu lado alguém para trazê-lo de volta da perdição. Fique atendo à minha escolhida, pois ela é a mesma que escolhestes.”. Estas são as palavras do Altíssimo para você... mesmo que não saiba o que elas signifiquem, ele pede para que lembre-se delas, pois um dia irá entender...

Da mesma forma que chegou, Metatron sai sem dar tempo de reações. Daniel reflete sobre as palavras do Altíssimo sem julgar e nem analisar, afinal, tudo tinha seu tempo e se agora estas palavras não significavam muito, algum dia elas iriam ter significado. Então ele volta aos seus afazeres.

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Quando retorna de suas lembranças, Daniel se encontra chorando lágrimas de pesar. Ele tenta se recompor e então fica em silêncio. Ana sorri limpando os próprios olhos do choro e se despede sem jeito após revelar seu passado. Ela sai pelo mesmo arco em que os outros saíram, subindo as escadas posteriormente para chegar ao seu quarto. Quando Daniel deixa de avistá-la o peso lhe joga ao chão e ele desmorona em choro. Agora ele entendera as palavras do Altíssimo: aquela criança que carregava em seu colo outra criança. A escolhida de Deus para contê-lo dos pecados era Ana, a mesma menina que havia visto em suas lembranças e que por um descuido seu havia perdido seu filho.

 

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