Daniel se vê diante um dos grandes membros da corja do Inferno, um Grão Duque Infernal. Ele não reage, não pensa. Seu corpo somente treme com o nome daquele ser, com sua aparência brutal e com sua onipotência. Neste momento, as palavras de Raziel não faziam mais sentido, as palavras de Azazel não importavam, nada era mais angustiante do que aquela situação. Algo impedia o corpo dele de correr, mas da mesma forma, algo lhe dizia para fugir o mais rápido que pudesse e mesmo assim não seria o suficiente.
Percebendo a reação de Daniel, Raziel não encontra outra opção a não ser lutar. Mas ele se vê relutante a ferir o corpo que portava, afinal, não era sua manifestação angelical e sim o corpo de um humano que não tinha nada a ver com essa batalha. Porém, a urgência logo se é notada com as palavras do inimigo:
- HAHAHAHAHA! Raziel e Daniel. Vim à procura de um patinho e logo encontro dois deles. Vou fazer um bom lanche...
Raziel não perde a oportunidade para rebater as palavras do demônio:
- Não cante vitória antes do combate terminar Astaroth... Não se esqueça de que sou o líder de minha ordem e que posso enviá-lo de volta de onde saiu.
Astaroth rosna para o Querubin e então rebate:
- Não me importa. Este corpo que carrega não faz de você um grande importuno, assim como este franguinho ao seu lado. Afinal, por que protege um dos caídos? Não é de contra-gosto divino que você faça isso?
Raziel olha para Daniel. As palavras de Astaroth tinham sentido, já que Daniel tinha sido banido dos céus para viver na terra como um humano. Mas é neste momento que Raziel se levanta, e com ele erguem-se asas de pura energia angelical, antes não vistas por Daniel mas que agora eram perfeitamente visíveis. O líder dos Querubins diz:
- Minha missão neste mundo é cuidar da Humanidade... Daniel agora é um humano e é meu dever protegê-lo.
Daniel olha para Raziel e franze o cenho. Há pouco ouvira que era um anjo, agora ouve que não é mais. Não sabia ao certo o que pensar, ainda mais diante deste acontecimento. Não compreendendo o que se passava, o jovem desiste de levantar-se e fica onde estava.
Raziel por sua vez ergue-se no ar, como se levitasse e se prontifica a ficar cara-a-cara com Astaroth. O demônio somente observa e encara o Querubin. Os dois se entreolham por algum tempo até que Astaroth diz:
- Raziel, você sabe como nossos relacionamentos não vão bem. Sabe como seus companheiros e nós estamos em conflito há anos. Por que não entrega esse ex-pastor e vai cuidar de suas ovelhas... acredito que ele não é mais importante para vocês e o inferno aguarda mais um destes para ser torturado pela eternidade.
Raziel olha sério para Astaroth e logo em seguida olha para Daniel. Como se ele fosse tomado por uma idéia, este volta-se para o demônio novamente, porém agora com um sorriso no rosto. Então o anjo diz:
- Não. Daniel não está aqui por acaso... eu também não. Nenhum de nós está. Você tem um motivo para estar aqui, nós também. Acho melhor que você volte ao inferno e esqueça dos teus planos, pois Daniel nunca pertencerá a esse seu mundo.
Astaroth retira o peso daquele machado dos ombros levando-o até o lado de seu corpo, próximo dos pés. Ele bufa dizendo:
- Então não tenho outra escolha a não ser levá-lo a força.
Raziel esperava por um combate direto e por isso se preparou para o conflito. Não poderia ferir aquele corpo, pois era emprestado. Seu verdadeiro corpo ainda estava se recuperando de um recente conflito. Porém, devido aquelas circunstâncias, ele sabia que se não tomasse cuidado, logo perderia muito usando aquela carapaça. De forma inversa, Astaroth aparentava querer usar de tudo daquele corpo, fazendo-o em pedaços caso fosse necessário para atingir seus objetivos. Os dois ficam se olhando, esperando o primeiro ataque um do outro, até que este surge.
Daniel estava logo abaixo dos dois, agora ele podia ver perfeitamente as asas de pura energia branca de Raziel. As mesmas que ele usou para carregá-lo para longe daquelas criaturas que ele dizia ter visto no Hospital. Os dois conversavam algo que ele não compreendia e então ficaram em silêncio. O jovem não pretendia se meter, mas também não queria sair e deixar Raziel por lá. O anjo era o único que poderia responder suas respostas. Assim que se sente seguro para levantar-se, Daniel o faz pensando em poder ouvir a conversa dos dois, mas para sua surpresa algo inexplicável acontece. Os céus começam a tremer como se trovões cruzassem-nos, mas apesar da chuva, nenhum trovão surgia e nem ao menos um pequeno raio. Os dois iniciavam um combate onde a única coisa que podia ser vista e distinguida era um enorme conflito que gerava diversas explosões aleatórias no céu. Tão logo se inicia, o chão começa a tremer novamente e o deslize de terras continua, cada vez mais forte. Daniel acreditava que agora estaria morto, pois o chão abaixo de seus pés também ruía. Mas para sua surpresa uma voz quase angelical cochicha em seus ouvidos que estava ali para salvá-lo.
Surpreso, ele olha para trás e nota a presença de uma mulher de longos cabelos cacheados e loiros, pele bronzeada num tom claro, expressão amigável. Ela estendia a mão em sua direção como se fosse segurá-lo, quase que pedindo permissão para ajudá-lo. Daniel, agindo por impulso, acaba estendendo a mão e segurando a dela. Aquela mulher puxa-o com uma força que não aparentava possuir, os dois começam a correr como se fugissem da morte. Ele ainda olha para trás como se sentisse por deixar Raziel, mas não podia ignorá-la, como se ela houvesse lhe enfeitiçado. Ao chegarem em uma rua próxima do local, que ainda estava inteira, eles entram em um tipo de carro onde alguém aguardava no banco do motorista. Ela acena para que o motorista siga e eles saem do local às pressas. Daniel não consegue dizer uma palavra. Com muito pesar em seu peito, ele repousa no banco. Algo o angustiava ao ponto dele acabar apagando, talvez de cansaço, talvez de tão confuso que estava.
Raziel usava de todo o seu poder angelical para bloquear os golpes do machado de Astaroth. O corpo humano que carregava não suportava seu real poder, por isso ele estava completamente limitado, além do fato de que seus poderes reduziam cada vez mais em que vivia como um humano. Porém, quando ele percebe que sua convocação do círculo havia funcionado e que eles já haviam levado Daniel, um grande alívio toma conta de seu ser. Mas isso não era o suficiente, pois somente o pesar que carregava já era suficiente para fazer de Astaroth melhor do que ele no combate.
O gigante Grão Duque desfere diversos golpes contra Raziel, algumas vezes se ferindo com o próprio machado para tentar ferir o inimigo de qualquer forma. Inversamente do que o anjo fazia, ao usar toda a sua energia para se esquiva e proteger o corpo que carregava. Logo que percebe isso, o demônio diz:
- Raziel... Não irá aguentar muito tempo fugindo como uma lebre...
O Querubim continua a fugir, mas acaba sendo ferido em seu braço. Ele empurra o demônio e gira o corpo desferindo um chute contra seu peito fazendo-o se afastar por alguns metros no ar. Distantes, eles se entreolham sérios. Raziel olha para seus ferimentos e então se enraivece, enquanto Astaroth começa a gargalhar espelhando o sangue de suas feridas por seu rosto. O anjo diz:
- Me enoja ver como eles não são nada para vocês...
Astaroth responde:
- Carne humana é como qualquer outra carne. Deixaram há muito tempo de serem abençoados por um Deus. Ele abandonou sua criação, assim como abandonou vocês.
Irritado com as palavras do demônio, Raziel diz:
- O Altíssimo nunca nos deixou, muito menos a eles. E eu vou lhe dar uma prova disso...
Raziel fecha as mãos e leva-as à sua boca, sobrepondo uma sobre a outra. Com um sopro ele começa a afastar as mãos e os ventos seguem seus comandos. Logo se forma em suas mãos uma grande espada de vento. Usando de sua força e de sua aura angelical, ele separa as duas mãos fazendo com que aquela grande espada de vento se partisse em duas. Astaroth não aguarda o término dos movimentos do anjo e logo se prontifica a atacá-lo com grande fúria. Assim que desfere um poderoso golpe o corpo de Raziel desaparece no ar. O demônio confuso olha para os lados procurando pelo anjo e então seus braços se rasgam com a fúria dos ventos. Raziel aparece alguns metros à cima dele e com os braços abertos, baixando as mãos que empunhavam as espadas de vento, ele diz:
- Deus, me perdoe por ferir este corpo mortal... mas irei expurgar este demônio para o fim, onde ele deveria estar.
1 Comentário:
uau *.*
17 de agosto de 2014 às 00:26