Bem galera, estou aqui para avisar a todos que eu estou voltando finalmente a escrever!
\o/
Sei que para muitos é um martírio, mas para outros não é.
Gostaria de agradecer pelo povo que lê meu conto e para aqueles que me apoiam. Também agradeço aqueles que falam mal, pois só de falar, já ajudam. xD
Um abraço,
Daniel Lemos
Voltando à ativa!
Capítulo 22 – Escuridão da Humanidade
Daniel e Raziel seguiam pelas ruas imundas daquela cidade em ruínas. A respiração ofegante do jovem demonstrava como seu corpo não estava acostumado com longas corridas. Fazia alguns poucos minutos que eles não ouviam mais nenhum grunhido ou som proveniente daquelas bestas que os seguiam. A paisagem somente piorava desde que Daniel passou a adentrar mais e mais aquele lugar. Não se encontrava quase nenhuma edificação de pé e as poucas que eram avistadas, estavam todas marcadas com sangue seco, marcas de um grande conflito no passado. O espanto daquele anjo em corpo humano era tanto que seus olhos quase não acompanhavam mais o terreno por onde andava e sim as marcas da brutalidade que houvera ali.
Não demora muito para que Raziel anuncie:
- Estamos chegando. Podemos andar mais lentamente.
Daniel espira fundo, ele se sente aliviado por não ter mais de correr. Logo seus músculos começam a se relaxar e algumas dores começam a surgir. Mas não leva muito tempo para que ele se acostume e passe a ignorar a dor. Assim que Raziel avista a casa da bruxa, este aponta para o local e pára na entrada. Uma pequena casa mal acabada que era feita de alvenaria e adornada com detalhes em madeira. Porém a mácula estava presente até naquela edificação, com runas marcadas em sangue, marcas de rachaduras nas paredes e madeiras. Daniel olha para Raziel com nervosismo e logo se predispõe à entrar, mas é travado por seu companheiro que lhe adverte:
- Cuidado com a bruxa, pois ela é sábia o suficiente para lhe enganar. Mas se você entrar nesta casa convicto de seus objetivos, com fé em sua missão na terra, nenhuma de suas palavras tortuosas afetarão sua mente.
Novamente Daniel se encontrava em uma situação completamente desconhecida. Além de saber que ele era um anjo e que deveria impedir o apocalipse, ele também deveria enfrentar seres místicos e de grande poder sem nem ao menos possuir algum conhecimento que lhe ajude nestas tarefas. Apesar de sentir-se um tanto perdido, Daniel prossegue e não olha para trás. Ele estava certo do que havia vindo fazer e não poderia deixar tudo de lado por insegurança. Ao entrar na casa, Daniel percebe que não havia móveis por lá e que não havia ninguém na sala principal do lugar. Estranhando o fato, ele busca por outras passagens e nota que há três portas no interior da sala. Sem pensar, ele escolhe aquela que se encontrava do outro lado da mesma, de frente para a porta de entrada, cruzando completamente o cômodo. Ao tocar na maçaneta da porta Daniel sentiu uma grande energia maligna e então percebeu que ao cruzar aquele portal ele estaria diante da mulher que Raziel falava. Sem pensar, mais uma vez, Daniel segue em frente.
***
Dante estava encostado naquela porta havia muito tempo. Não agüentava mais esperar do lado de fora, mas não poderia fazer nada. Logo mexe no bolso e retira um maço de cigarros junto a um isqueiro. Ele pega um dos cigarros e guarda o maço acendendo o isqueiro com a outra mão. Logo que dá a primeira tragada o seu pulmão sente o impacto da fumaça e dos poluentes fazendo-o sentir-se zonzo por alguns segundos. Com um sorriso sombrio no rosto ele diz a si mesmo:
- Fazia tempo que eu não ficava assim tão nervoso.
Ele olha no relógio que carregava no braço, ainda faltava algum tempo para a chegada daquele informante. Ramon e Ana já estavam examinando tudo dentro daquele prédio e logo seria desvendado o motivo daquela sujeira toda. Cinco corpos mortos em um quarto, todos os cinco eram mulheres e nenhum sangue pelo local. Aparentemente eram vampiros, mas enquanto não tivessem certeza, não poderiam afirmar nada. Logo seu celular toca e pelo número no visor, Dante percebe que o informante estava a lhe ligar. Rapidamente atende:
- Fala aí seu lerdo, está atrasado. Não agüento mais te esperar...
Antes que aquele informante pudesse falar, o som no fundo de um carro cantando pneus chama a atenção do Imortal, então a voz exausta do informante surge:
- DANTE! DANTE! Me ajuda! Por favor!
Dante olha para a esquina, onde ouviu novamente o mesmo cantar de pneus e notou o homem que aguardava fugindo de um carro. O carro era um Peugeot preto com vidros escuros, impossibilitando ver o motorista. Rapidamente o Imortal começa a correr na direção do informante sacando sua FN P90, uma submetralhadora que ele carregava sempre em suas costas oculta pelo sobretudo que usava. Porém o tempo não estava a favor de Dante, quando ele começa a erguer a arma a cena do seu informante sendo atropelada atravessa sua mente e o carro rapidamente faz uma curva brusca entrando em uma viela próxima. O Imortal se encontrava com a submetralhadora apontada para a rua, onde começava a encher de gente curiosa. Logo ele percebeu que poderia perder muito se ficasse por aquela área com tanta gente chegando. Dante corre para o prédio e começa a ligar para Ana enquanto sobre as escadas do edifício.
***
Daniel adentra o cômodo onde encontraria a mulher que Raziel havia lhe indicado. Logo que observa o lugar o jovem cai para trás no susto que levou. O quarto aparentava não ser arrumado há décadas e a mobília estava em péssimo estado transmitindo a sensação de que aquele era um cômodo pessoal. No final do aposento, havia uma poltrona onde se encontrava uma mulher idosa sentada na posição de lótus com seus olhos e boca costurados de uma ponta a outra. Ainda recuperando o fôlego, Daniel se levanta apoiando-se cautelosamente no esquadro de madeira da porta. Ele olhava atento e temeroso para aquela senhora. Após dois ou três passos adentro, ele se assusta novamente. Os olhos e boca daquela mulher começam a perder a costura, como se os fios que trançavam sua pele fossem feitos de cinzas e desmanchassem-se no ar. No momento do susto Daniel exclama:
- Meu Deus!
Aquela mulher abre seus olhos, que possuíam um tom claro acinzentado, como seus cabelos, e olha diretamente para ele. Sua boca se abre revelando uma arcada dentária precária, onde os poucos dentes que a compunham eram negros ou não tinham parte do esmalte. Ela começa a falar:
- Daniel, Principado dos Reinos do Céu, que desceu ao mundo pecador em forma humana. Por que clama por teu Pai neste lugar cuja mácula foi marcada eternamente pelos Anjos?
Daniel assume uma postura mais séria e então se aproxima ainda temeroso por dentro. Ele diz:
- Eu não compreendo muito ainda do que eu era. Estou aqui para buscar minha Aura Angelical e impedir o fim do mundo.
Ela olha bem fundo em seus olhos e pergunta:
- E por que veio a este lugar buscar essas respostas?
Daniel pensa rapidamente e prossegue com o diálogo:
- Raziel, Príncipe dos Querubins, me instruiu a procurá-la. Ele disse que a Senhora tem um método para que eu possa recuperar minha Aura Angelical.
A senhora abre uma das mãos e logo em seguida abre a outra. Na palma de cada mão havia uma chave. Ela pergunta:
- Se a vida e a morte se ocultassem atrás de uma porta, o fim do mundo fosse tão iminente que você só pudesse escolher uma delas, qual você escolheria? A chave da vida... – ela ergue a mão direita – ... ou a chave da morte? – ela conclui a pergunta abaixando a mão direita e erguendo a mão esquerda.
Daniel olha para as duas chaves, que apesar de serem idênticas não possuíam o mesmo formato em seu segredo. Ele pensa sobre as chaves e depois pensa sobre o fim do mundo. Não seria algo simples demais de se responder, apesar da resposta estar na sua cabeça desde quando ela revelou sobre uma porta de vida e outra de morte. O anjo logo olha para ela, ainda sério, e aponta para a mão esquerda dela dizendo:
- A morte. Se o mundo acabar, não terei mais utilidade.
Ela fecha a mão direita e dá a chave da mão esquerda para ele. Logo em seguida ela dispara outra pergunta:
- O mundo é cruel, afirmam os humanos que você quer tanto se proteger. Eles não enxergam que suas escolhas fizeram deste mundo o que ele é hoje e por isso culpam tudo o que puderem. Assim como a indisciplina de Eva em comer do fruto proibido, você foi lançado dos Céus para viver como um humano... Você desiste desta graça para sacrificar sua existência em prol daqueles que abandonaram os antigos ensinamentos?
Daniel olha para as próprias mãos. Em uma delas estava a chave da morte e na outra ele vê o desenho do corpo humano. Por alguns segundos seus sentidos se expandem ao ponto dele poder sentir cada célula em seu corpo, cada parte viva de si e o todo que essas células compunham formando seu corpo humano. Então ele ergue a cabeça e diz:
- Meu dever é proteger a humanidade e não fantasiar ser parte dela.
Desta vez a senhora sorri e assim que Daniel esboça confusão com o sorriso dela, mais uma pergunta surge:
- Para enxergar a luz, todo ser humano deve caminhar pelas trevas. Você concorda com essa frase?
Daniel olha pensativo e logo dispara:
- Não. Eu reformularia dizendo: Caminhar pela luz é saber cruzar as trevas.
Novamente um sorriso e por fim a senhora pergunta:
- Está disposto a sacrificar uma vida em nome do resto da humanidade?
Sem pensar Daniel diz:
- Estou.
Ela estende o braço para ele e de seu pulso começa a brotar uma ferida. De dentro do corpo daquela mulher começa a sair um tipo de fio negro que caminha no ar seguindo até Daniel. O jovem se sente acuado, mas resolve não esboçar tal sentimento e se imobiliza. O fio percorre o espaço entre os dois e então toca o peito dele rasgando sua blusa. O susto faz com que Daniel dê um passo para trás, mas isso não impede que o fio avance mais. Desta vez mas voraz, o fio rasga o peito do jovem e adentra em seu corpo. Ele não sente muita dor, mas contorce as feições devido o pequeno corte. Logo todo o fio passa do corpo dela para o corpo dele. As feridas em ambos são fechadas no final do processo, mas a senhora simplesmente cai para o lado sem sinais de vida. Daniel olha para ela receoso, não queria acreditar que ela estava morta. Mas então ele pôde ver nitidamente o espectro da alma abandonando o corpo dela e erguendo-se acima do corpo. Com um sorriso meigo ela diz:
- Esses fios manterão seu corpo quando sua Aura de libertar. Isso fará com que você possa ser mais humano e aprenda mais sobre o que quer defender... Da mesma forma que eles mantinham meu coração batendo após tantos séculos, eles irão manter seu recipiente intacto quando sua alma de anjo regressar...
Daniel dá um passo para frente, aturdido com o ocorrido, estende a mão e diz:
- Não! Por quê? Não precisava fazer isso por mim! Eu só queria que você libertasse minha Aura, não precisava morrer por isso...
Ela começa a subir para uma fonte inigualável de luz e em seu caminho ela finaliza dizendo:
- Eu lhe perguntei se você assumiria sacrificar uma vida por um mundo enegrecido, você aceitou. Não tema meu jovem, você já começou salvando minha alma... Agora vá e salve o mundo!
Daniel começa a refletir. Havia mesmo concordado com as palavras dela, mas por um equivoco, ele acreditou que a vida sacrificada fosse sua própria. Logo seus olhos começaram a lacrimejar e ele orou em silêncio pedindo pela proteção daquela alma. Tão de repente o seu corpo começou a se enrijecer e seus músculos começaram a se contrair. O sentimento de culpa desencadeou o rompimento do selo de Raziel e sua Aura Angelical ameaçava se libertar o quanto antes. Daniel caiu de joelhos e pediu perdão ao seu pai, mas agora ele precisava seguir com o planejado e impedir uma catástrofe contra toda a humanidade.
Capítulo 21 – As Ruines de Joie
Raziel e Daniel chegam ao Obelisco de Luxor. Diante deles Raziel abre o pergaminho e recita as palavras angelicais de rompimento. Daniel observa atentamente o monumento e percebe alguns fios de luz começando a surgir. Inquieto pelo acontecimento ele olha ao redor para ver se alguém estava reparando naquela “mágica” de anjo, mas para surpresa dele o tempo aparentemente estava parando. O carro que passava na rua desacelerava aos poucos, as folhas das árvores começavam a se imobilizar em pleno ar, as pessoas caminhavam lentamente até pararem. O mundo pára com aquela manifestação angelical de poder. Daniel se espanta e volta à atenção no obelisco que por sua vez estava completamente luminoso revelando runas e símbolos de uma linguagem muito antiga. Raziel olha para o jovem e sorri acenando para que ele siga-o, então começa a caminhar na direção daquela luz toda até ser consumido pelo monumento. Daniel percebe que aquela luz toda na verdade era um tipo de portal e decide entrar, fechando completamente os olhos ao fazê-lo. Enquanto caminhava na direção do portal ele sente seu corpo aquecer, mas mesmo assim não abre os olhos, somente continua. O calor que lhe consumia é constante e faz com que ele sue. Porém essa sensação logo passa e um enorme frio lhe consome fazendo seu coração fraquejar. Não bastante, sua pele arde com um novo calor e sua mente logo entra em colapso. Seus olhos se abrem de susto e ele vê o universo que atravessa, as estrelas e os planetas que estão no caminho. Essas cenas cruzam sua mente como fotos e logo são substituídas pelo ardor da dor. Seu corpo não agüenta e seu coração pára assim que ele percebe estar em algum lugar do universo, um lugar mais físico, um lugar mais específico. As Ruínes de Joie.
Raziel, após cruzar todo o trajeto da fenda aberta para a cidade proibida pelo anjos, escondida no subterrâneo de um planeta longínquo, volta-se para o portal esperando que seu companheiro apareça logo em seguida. Não demora e Daniel surja daquela fonte de luz temporária, que logo se apaga atrás dele fechando a abertura para chegar ao local. Porém o corpo dele estava imóvel, cai no solo maculado e aparenta ausência de respiração. Raziel olha profundamente para o funcionamento orgânico daquele corpo humano e percebe que o coração de Daniel não batia e assim o seu cérebro começava a perder o oxigênio. Se ele não fizesse algo logo, este corpo poderia morrer. Então o Príncipe dos Querubins concentra sua Aura Angelical em suas mãos e delas começa a brilhar uma luz branca que ao entrar em contato com o corpo de Daniel faz com que seu corpo e mente sejam purificados e limpos dos recentes sentimentos e traumas. Raziel começa a “curar” aquela ferida causada pelo impacto da transição entre o tempo e espaço que o corpo humano não suportava. Ele faz com que o corpo de Daniel volte a funcionar normalmente e seu coração volte ao ritmo normal, sem seqüelas. O jovem retém suas ultimas memórias e acaba por restaurar uma daquelas que foi perdida de sua vida de anjo...
-*-*-*-*-*-*-*-*-FLASH DE MEMÓRIA-*-*-*-*-*-*-*-*-
Daniel caminhava entre os humanos em seu corpo angelical, invisível aos olhos deles. Ele observava como a individualidade era grande, como a fé estava quase que perdida entre aqueles que residiam num mundo criado pelo Altíssimo. Observava como aqueles que foram escolhidos como filhos primogênitos eram tão inconstantes e tão subversivos, como eram pecadores natos, como crianças que fazem algo somente por fazer sem pensar nas conseqüências, seja por ignorância ou por simples desleixo. Ele observava atentamente todos os movimentos daqueles que corriam para o trabalho e daqueles que corriam do trabalho, daqueles que trabalhavam sem saber e daqueles que sabiam que não teriam outra opção a não ser trabalhar. A falta de compaixão, a ausência do amor, o descumprimento das leis sagradas. Notava homens gananciosos, mulheres luxuriosas, crianças maldosas. E mesmo em toda aquela bagunça, ele não se questionava do que era certo e do que era errado, somente se espantava com as queixas que ouvia a cada erro humano. Em cada canto alguém clamava pelo Senhor, chamando seu nome em vão. E não satisfeitos, ainda culpavam o adversário.
Após algumas horas, Daniel percebe que sua ronda estava completa e que deveria voltar ao seu posto nos limites entre a Terra e o Primeiro Céu. Mas quando estava a ponto de partir, percebe algo que lhe faz esperar por alguns segundos. Um jovem percebe a falta que a juventude em uma senhora de idade faz enquanto ela tenta atravessar uma grande avenida. Ele se aproxima e oferece ajuda, mas ela nega e ainda se queixa acreditando que poderia fazer qualquer coisa na vida sozinha, como sempre fez. Daniel franze o cenho mas decide somente observar um pouco mais. O jovem não se intimida e continua próximo da senhora, que após poucos minutos de grande agitação observando o movimento dos carros decide atravessar. Ela começa a capengar na tentativa de cruzar a avenida com velocidade, mas seu corpo não lhe permite concluir o trajeto antes do sinal abrir e aqueles homens que conduziam os veículos não aguardam que ela o termine. O jovem, adiantado para caso isso ocorresse, se presta a segurá-la pelo braço e terminar o trajeto acenando para que os carros esperem. Após uma chuva de buzinas, eles chegam ao outro lado. A senhora, envergonhada, agradece o jovem e se despede. Ele sorri e oferece companhia até que ela termine seu caminho. Daniel percebe o motivo do Altíssimo ter escolhido eles como seus filhos, pois mesmo que a maioria não estivesse de acordo com sua vontade, os poucos que se enquadravam eram até melhores do que os anjos esperavam. Ele fica feliz e novamente se sente motivado em protegê-los. Era essa sua função e deveria se adiantar até seu posto, pois não poderia deixá-los na mão.
***
Daniel desperta com a lembrança recente em sua mente. Raziel olhava para ele assustado, pois temia que seu corpo não resistisse. O jovem se alegra e sorri. O Príncipe dos Querubins se sente aliviado com o retorno seguro do garoto e então diz:
- Pensei que você não agüentaria... Esqueci que seu corpo agora é humano e que está cheio de restrições.
Daniel se levanta cuidadosamente e por sua vez responde:
- Não se preocupe. A Humanidade não vai me deixar morrer. Assim como eu não deixarei que eles morram.
Raziel olha para ele orgulhoso e comenta:
- Eu sei que não vai...
Os dois se entreolham convictos do que vieram fazer neste lugar. Só então Daniel começa a reparar onde estava. Uma visão amedrontadora que revela um portal destruído. Atrás dos pilares destroçados que abriam a cidade estavam as ruínas do que já foi uma grande cidade medieval. Sons estranhos podiam ser ouvidos por eles quando se silenciaram. Construções completamente quebradas ou demolidas circulavam o que parecia ser uma torre partida. Daniel notou que estava diante de um terreno totalmente hostil e decide portar um aspecto mais ativo, de maior percepção. O ar era pesado e seu odor não agradava. Raziel dá alguns passos e pára mais adiante dizendo:
- Não mudou em nada desde que trancamos esse lugar. Talvez tenham decorado o lugar com sangue e ossos, mas não mudou em nada. Este Mausoléu está cheio de Devoradores e Carniceiros, mas o local de maior perigo é naquela torre, o Pilar de Joie. É naquela torre que se esconde nosso alvo, um demônio chamado Nam. Mas antes de seguirmos para aquele local, teremos que encontrar uma antiga conhecida minha... Venha comigo.
Raziel começa a adentrar a cidade. Daniel começa a seguí-lo, mas desta vez estava mais centrado e confiante, chegando a sacar as duas pistolas que havia pegado com Ramon no apartamento em Paris. Seu treinamento com Dante fora peculiar, e a parte mais severa do treino foi sua mira e concentração que devido o incidente do demônio Bavorí, revelou seu fraco com aquele equipamento. Agora a situação era outra, ele já sabia atirar e estava até confiante de que acertaria qualquer coisa que se movesse diante de seus olhos.
Raziel começa a explicar o local para Daniel:
- Esta cidade é dividida em três pavimentos: o Pátio, que corresponde a todas as áreas externas do centro da cidade, onde eram localizadas as casas mais pobres, sendo a maior parte deste lugar; a Redoma, que fica localizada após o rio de corpos, classificada como a área ocupada pelos nobres e pelo clero da cidade; e por fim, o Vórtice, que corresponde ao centro negro, onde há as maiores construções e a torre do centro da cidade.
Ele olha para os destroços no chão e tenta se guiar por alguns vestígios que reconhece de sua ultima visita. Então acena para um dado local e começa a seguir para lá. Daniel prontamente faz o mesmo. Durante o percurso ele continua:
- Aqui no Pátio está uma bruxa que carrega um segredo milenar. Ela foi trancafiada aqui por causa deste segredo e não foi punida com sua morte, pois eu vi este momento chegar e nela está o segredo para seu corpo suportar o poder angelical selado em sua alma.
Daniel se interessa e então indaga:
- E que segredo seria esse?
Raziel pára, olha para os lados e volta-se para Daniel respondendo:
- Se eu lhe contar, deixa de ser segredo.
Ele dá uma piscadela para disfarçar a brincadeira. Daniel não entende, mas também não gosta de ficar curioso. Quando ele pensar em insistir na pergunta uma ressonância maligna cruza seu corpo. Logo Daniel percebe a presença de seres demoníacos ao redor dele e de Raziel. Pronto para agir, o jovem destrava as pistolas e mostra-se ativo. Raziel olha por cima dos ombros e aguarda sem fazer nada. Não demora muito para que alguns Devoradores comecem a surgir dos escombros cambaleando e escalando os obstáculos até seus alvos. Daniel percebe que aquelas criaturas eram idênticas àquelas encontradas no dia em que Lúcifer liberou seus poderes angelicais e de imediato começa a sentir uma raiva imensa por estar diante deles novamente. Suas mãos não se seguram e ele começa a disparar contra todos os inimigos. Sem demora muitos começam a cair com buracos de bala em seus corpos. Daniel descarrega completamente os pentes em cima daquelas criaturas e só para quando não vê mais nenhum de pé. Rapidamente ele começa a buscar outros pentes para carregar sua arma, mas Raziel lhe corta o ânimo dizendo:
- Você sabe que isso não afetará o corpo deles, não sabe?
Daniel olha para ele enquanto recarregava, porém mais lentamente e pergunta:
- Como assim?
Raziel responde acenando para as criaturas, que começavam a se reerguer:
- Eles não morrem com balas comuns. Talvez algumas banhadas em água benta, ou feitas em uma oração de um adepto munido de uma verdadeira fé. Mas não de balas comuns. Isso só vai retardá-los.
Daniel se desanima, mesmo após ter trocado os pentes das pistolas e então pergunta:
- E o que faremos?
Raziel olha para o caminho que tem que seguir e diz:
- Vamos em frente. Eles vão nos seguir, mas somos mais rápidos do que eles. No final deste caminho você terá pouco tempo para retomar sua Aura e assim poderá feri-los de verdade.
Confuso Daniel pergunta:
- E porquê você não faz nada?
Raziel começa a seguir enquanto responde:
- Por que é o seu treinamento e não o meu.
Capítulo 20 – A Promessa de Daniel
Daniel apressa-se em pegar suas malas no táxi. Ele estava deslumbrado com a cidade luz e desde que desceu da aeronave seus olhos não paravam quietos admirando o local. Dante já estava na recepção do Hotel onde havia marcado com Raziel, ele registrava o nome dos dois no quarto alugado. O lugar portava um alto nível e aparentava ser caro, mas ao que parecia todos os custos de ambos estavam já quitados. Logo que Daniel adentra o hotel carregando as malas Dante acena para que ele siga até o elevador. Um dos empregados auxilia o jovem com as malas e os três seguem.
Ao chegar no quarto, deixando uma gorjeta para o auxiliar do hotel, Daniel relaxa e percebe a presença de Raziel no aposento. Apesar deles não encontrarem ninguém, como se estivesse vazio o apartamento, a energia do querubim revelava sua presença. Dante começa a se acomodar no sofá revelando o cansaço da viagem enquanto Daniel adentrava investigando todos os aposentos. Quando buscava os quartos, que eram três suítes pelo que foi declarado na portaria, ele se depara com o anjo saindo de um deles. Raziel sorri, começa a seguir até a sala enquanto diz:
- Que bom que chegaram... Espero que a viagem tenha sido tranqüila.
Daniel relaxa suas expressões quando percebe a calma de Raziel e responde:
- Foi sim. Tive uma conversa longa conversa com Dante sobre o passado dele.
O Líder dos Querubins interrompe seu caminho olhando para Daniel alarmado. Ele indaga:
- Dante revelou o passado dele a você? Que estranho... Ele não fala sobre isso com ninguém. Isso é um bom sinal, vejo que vocês estão se entendendo.
O jovem sorri. Logo em seguida os dois continuam até a sala de entrada sem falar mais nada. Quando chega a ver Dante no sofá, Raziel começa:
- Como foi a missão?
O imortal olha por cima do ombro vendo o recém chegado lhe perguntar sobre o ocorrido, dá de ombros e responde cinicamente:
- O que você acha? Ele corre bem.
Raziel olha para Daniel com uma expressão um tanto ruim, mas não direciona sua raiva ao mesmo, somente olha de volta pra Dante e fala:
- Você sabe o que acontecerá agora não sabe? Isso lhe custou uma vida.
O imortal olha friamente para Raziel.
- Você acha que eu estou me importando com isso? Eu acho que devemos nos focar em salvar o mundo e não uma única vida.
Raziel olha para Dante com certa ira, mas não fala nada, ele estava certo. O anjo olha para Daniel e diz:
- Vamos começar seu treinamento após o almoço. Se prepare pois hoje mesmo iremos partir para o a Ruines de Joie, o que vai ser muito perigoso.
Daniel engole em seco. Ele estava ansioso e ao mesmo tempo temeroso. Mas sabia que não deveria temer. Seu nervosismo é quebrado quando ele ouve a voz de Ana Liz cruzando a sala.
- Iluminado!
Ao olhar para trás Daniel é surpreendido com um grande e forte abraço da caçadora. Ele chega a corar, mas acaba retribuindo o abraço. Ana Liz se desvencilha do abraço lentamente e sorri com muito gosto. Ela logo pergunta:
- Como você está?
Daniel coça a cabeça, estava um tanto quanto envergonhado, mas logo responde:
- Estou... Bem. Tranqüilo por sinal. E você, como está?
Ela sorri, meche no cabelo e diz:
- Bem melhor agora! Ansiosa por ver seu treinamento!
Raziel olha para Ana Liz modificando sua expressão para algo mais enigmático e então fala:
- Receio que você não possa fazer isso. Somente que partirá para as ruínas são o Daniel e eu. Vocês terão uma missão para esta noite.
Ana franze o cenho enquanto Dante arregala os olhos na direção de Raziel. O imortal discorda nervoso:
- Ainda hoje? Não mereço um descanso não?
Raziel nada diz. O clima fica um tanto quanto tenso, mas Raziel decide impor suas decisões dizendo:
- Descansem até o almoço, voltarei para repassar tudo o que precisam saber.
Então ele sai seguindo para o seu quarto. Ana acena para Daniel e para Dante dizendo:
- Venham que eu vou mostrar o quarto em que vocês vão ficar com Ramon.
Daniel se prontifica a partir pegando suas malas, mas Dante olha para ela friamente dizendo:
- Ainda vou ter de dividir quarto? Raziel me paga.
Ana olha para o Imortal, mas nada diz. Daniel começa a perceber um Dante que ele não conhecia, pois até então ele estava sendo completamente diferente. Talvez essa fosse sua aparência de durão, ou talvez Raziel estivesse certo quando disse que eles estavam se entendendo. Os três seguem para o quarto onde Ramon estava alojado. Este estava calçando suas botas e os cumprimenta. Dante e Daniel começam a se acomodar enquanto Ana segue para o próprio quarto. O tempo passa sem que eles percebam e logo o meio do dia surge. Ana e Talutah já se encontravam na sala, Ramon ainda não havia chegado da rua, Dante ainda dormia em um sono pesado enquanto Daniel se banhava preparando-se para a reunião com Raziel.
Na sala Ana comentava com Talutah:
- O que você acha que faremos?
A indígena olha para ela com certa curiosidade e reponde:
- Não faço idéia. Mas espero que seja algo mais emocionante do que roubar uns malditos sanguessugas.
Ana se silencia tentando adivinhar o que ela faria ao lado dos outros membros do grupo. Esperava que nesta noite encontrasse alguma informação sobre seu filho roubado, algo que lhe consumia todos os dias em uma mágoa imensa. Logo a porta de entrada se abre e Ramon cruza-a carregando algumas malas. No mesmo instante Raziel surge pelo corredor desligando seu aparelho celular e colocando-o em seu bolso. O líder diz:
- Ramon, encontrou o que procurávamos?
Ramon por sua vez responde:
- Sim. Também procurei por alguns contatos e arrumei armas.
Raziel afirma com a cabeça, logo em seguida olha ao redor e procura por Dante e Daniel. Ana Liz percebe a intenção do anjo e prontamente o responde:
- Os outros dois ainda não chegaram.
Raziel olha para ela e pede:
- Por favor, chame-os.
Pronta para atendê-lo, ela se levanta e segue até o corredor deixando os outros para trás. Ramon começa a repassar as informações que coletou para Raziel enquanto Talutah presta bastante atenção ao que os dois falavam.
No corredor Ana bate de leve na porta do quarto dos homens. Nenhuma resposta é recebida. Ela, temerosa por encontrá-los dormindo ainda, pega na maçaneta e a abre investigando. Dante, como esperado, estava dormindo de forma que até roncava profundamente. Mas ela não encontra Daniel, percebendo que sua cama estava vazia. Atenta aos sons ela procura por barulhos no banheiro da suíte, mas não ouve nada, talvez devido os roncos altos de Dante ou talvez por não haver ninguém lá. Decidida a procurar por ele, ela segue até o banheiro e empurra a porta que estava entreaberta. Para sua surpresa Daniel estava lá dentro, de costas se enxugando. Ela fica desnorteada, sem reação. Não sabia se fechava à porta ou se ficava ali. Maravilhada com o anjo despido, Ana acaba não fazendo nada além de olhar. Seu corpo aquece e seu rosto cora. Ela acaba agindo por impulso quando adentra mais o banheiro. O som de seus passos chama a atenção de Daniel que ao olhar para trás nota a companheira vindo em seu encontro. Ele leva um susto e apressasse em enrolar-se na toalha. Ana Liz lhe abraça e quase lhe beija. O jovem fica surpreso e envergonhado. Ela leva a cabeça ao seu ouvido e diz:
- Iluminado... Desculpe-me... Mas não consigo me controlar... Você é tão lindo...
Daniel, motivado por sua falta em protegê-la quando era anjo, na lembrança que teve, decide falar algo contra aquela situação:
- Mas... Ana. Não posso.
Ela não diz nada, somente interrompe sua investida. Seu corpo ainda ardia. Ela o abraça forte contra seu corpo, sentido-lhe suas curvas e apertando-se contra ele para que ele sinta seu calor. Daniel começa a sentir o desejo humano, seu corpo também se aquece, sua libido é crescente, mas sua mente lhe trava. Diante desta situação, ele somente poderia recuar. Então decide falar algo, mas Ana fala primeiro:
- Iluminado, acho que estou...
Sua fala é interrompida com a chegada de Dante na porta, que como de costume, fala cinicamente:
- Gente, quero usar o banheiro. Tem cama aqui no quarto!
Logo a mente de Ana volta ao normal e seu corpo se rubra completamente por causa da chegada do imortal. Daniel também se envergonha, não por fazer algo já que estava recuando, mas pela situação em que foi pego. Os dois se separam, Daniel se enrola direito na toalha e Ana começa a sair do quarto dizendo:
- Raziel pediu para que eu viesse à procura dos dois. Ele aguarda-os na sala...
Então ela desaparece na porta, com tanta vergonha que talvez escondesse a face ao falar. Dante olha para Daniel e, sem se intimidar, entra no banheiro para urinar. Daniel começa a sair enquanto ouve o desabafo do amigo:
- Mulheres...
Alguns minutos depois todos se encontravam na sala e as respectivas missões já haviam sido passadas. A cena do quarto dos homens não foi comentada por ninguém, mas mesmo assim Ana Liz ainda se ocultava do olhar de Dante e de Daniel. Raziel toma partida e diz:
- Se estão todos prontos, vamos. Nosso tempo está se acabando.
Todos começam a seguir saindo do apartamento. Na rua o grupo se divide, Daniel e Raziel pegam um táxi enquanto Talutah, Dante, Ana e Ramon seguem a pé para um local próximo dali. Durante o caminho de Raziel e Daniel nada é falado, o jovem estava ansioso demais para pensar em algo concreto enquanto o príncipe dos querubins estava longe em seus pensamentos. Ao chegarem em seu destino, a Praça da Concórdia, Daniel sai do Táxi enquanto Raziel ainda pagava a corrida. Logo após os dois estarem fora do veículo Raziel olha para Daniel com um ar misterioso e faz uma importante pergunta:
- Daniel, você está pronto para o que está por vir?
O jovem olha para a grande praça e depois olha para Raziel confiante.
- Sim... Estou.
Raziel olha para o Obelisco de Luxor situado no centro da praça e confirma:
- Você está apto a defender a humanidade do fim do mundo?
Daniel olha para o monumento e então sorri dizendo:
- Com certeza. Minha promessa a mim mesmo é que a vida humana que recebi só existe para este fim. Quero lutar ao lado deles com todas as minhas forças.
Raziel começa a caminhar e finaliza dizendo:
- Assim será... Conhecerá toda a sua força esta noite.
Capítulo 19 – O Princípio da Ordem
Capítulo 18 – O Anjo da Guarda
Capítulo 17 – O Poder da Fé
Ana e Ramon se encontravam em apuros. Eles não conheciam o verdadeiro poder daquele inimigo e estavam diante de uma situação muito difícil. A névoa cobria todo o chão do local, mas aos poucos começava a ficar mais densa e com isso o próprio lugar se embaçava dificultando a visibilidade deles. Ambos já haviam combatido seres desta raça, mas nunca um Lord, o que lhes traria alguma dificuldade. Ana estava nervosa, não poderia abaixar a guarda nem por um segundo, afinal ela tinha muito que resolver ainda. Ramon não temia a situação com a mesma intensidade de Ana, pois ele havia treinado combate cego durante sua participação na Ordem da qual veio. Porém, os dois estavam a suar frio.
Não demora muito para que o primeiro vulto seja visto naquela paisagem turva. Ana se volta para o local onde se originou aquela silhueta, mas nada encontra. Ramon, por sua vez, já se preparava para disparar caso notasse o movimento outra vez. O Vampiro gargalhava, brincando com suas vítimas como era de seu costume. Este queria fazer deles seus brinquedinhos antes de acabar com suas vidas, afinal, eles haviam feito um rombo feio em seu peito com aquela arma. Então outro vulto surge e um disparo é dado por Ramon. Ana se assusta com o barulho e não nota a presença do vampiro se aproximando por trás dela. Essa era exatamente a distração necessária para que o monstro se aproximasse. Porém, Ramon já esperava por este desfecho e logo prepara a arma para um novo disparo olhando ao redor em busca da surpresa. O vampiro surge por trás de Ana, que não percebe a aproximação. Outro disparo é feito, desta vez com um alvo visível. Ramon dispara mirando ao lado da companheira, onde nota o contorno do inimigo. Este se desfaz na névoa.
Logo sua voz atravessa o local, ecoando e dificultando a localização do locutor:
- HAHAHAHA! Estão assustados? Vamos ver quanto tempo agüentam este joguinho...
Ramon se enfurece e sua ira é percebida por Ana quando este deixa soltar uma pequena bufada. Os dois novamente começam a procurar pelo vampiro, mas desta vez notam que diversos vultos cruzam as extremidades da sala. Sentindo-se perdidos, eles começam a sentir o gosto do desespero. Mas Ana não se deixa entregar, logo se recorda de um de dos rituais aprendidos durante sua vida de caçadora. Ela começa a recitar palavras em latim buscando iniciar a busca pelo maldito. Ramon percebe o feito e começa a vasculhar seus bolsos procurando por um orbe de água benta. Novamente os diversos vultos cruzam a sala, mas desta vez eles passam por entre os dois como se fossem sombras muito velozes. Ramon arregala os olhos e busca identificar o vampiro caso ele passasse, mas não obtém êxito. O vampiro novamente inicia uma ameaça:
- Não adianta orar... Sua fé não é nada contra mim! Agora, comecem a sofrer...
Os vultos se intensificam e com eles ataques invisíveis começam a ferir a pele dos companheiros de Raziel. Ana deixa escapar um gemido de dor, mas não se perde em sua concentração, continuando a proferir aquelas palavras. Ramon começa a ferir-se quieto, tentando suportar a dor. Ambos sentiam seus corpos sendo saqueados, a cada golpe uma pequena quantia de seu sangue era sugado. O vampiro começa a gargalhar como se anunciasse sua vitória.
***
Raziel percebe que aqueles dois anjos que conversavam com Lúcifer se vão sem dizer nenhuma palavra. O Imperador do Inferno olha por cima do ombro como se notasse a saída dos dois e então se volta para Raziel, um pouco mais sério.
- Você sabe o que eu quero dizer, não sabe?
O Príncipe dos Querubins não diz nada de imediato, não precisava dizer nada. Ele somente continua voltado para o horizonte, observando atentamente todos os quilômetros que o distanciavam do escolhido para impedir o apocalipse. Lúcifer então sorri de leve, estava certo do que diria e mais do que confiante nesta visão:
- Não sei se sente o mesmo. Mas tudo o que conhecemos está prestes a mudar. E tudo isso por algo que eu mesmo tentei há muito tempo. Algo que não deu certo uma vez, mas que agora pode dar certo...
Raziel olha para Lúcifer e responde:
- Não sei ao certo o que pode vir a acontecer. Recentemente minhas visões estão se encurtando, diminuindo ao mesmo passo em que me torno humano...
O Senhor do Inferno olha para o céu e diz:
- Você escolheu a humanidade, irmão Raziel. Eu escolhi meus irmãos, os seres perfeitos. Nunca iremos entrar em um acordo, mas posso dizer que Daniel agora terá de fazer a escolha dele... E com esse corpo de barro que você tanto cobiça, ele poderá escolher qualquer um dos dois lados.
Raziel olha para Lúcifer sério. Por alguns segundos ele passa a sensação de que irá enfrentar o que o caído diz, mas toma outra atitude ao desfazer a seriedade em sua face para algo próximo à preocupação:
- Entendo. E acredito que ele irá ter de escolher sozinho... afinal, não adianta lhe pedir para que não participe desta decisão.
O Imperador do Inferno sorri. Às vezes ainda se assustava com o poder de adivinhação e previsão de seu irmão Querubim. Lúcifer se se encosta à barra de proteção e é prontamente seguido por Raziel. Os dois se entreolham e o decaído diz:
- Você não quer travar uma batalha aqui, quer? Não estou disposto a lutar. Seria melhor resolvermos isso de uma forma mais pacífica, não concorda?
Raziel sorri, olha para o céu e responde:
- Não... Não quero confrontá-lo. Mas... Posso dizer que eu vi como você irá terminar nesta guerra...
Lúcifer olha para o horizonte pensativo. Não perguntaria nada a Raziel por puro orgulho. Mas sentia-se curioso a ponto de parar para imaginar do que ele estaria falando.
***
Após mais alguns ataques do vampiro, Ana finalmente conclui o ritual pondo as mãos sobre aquele orbe que Ramon havia separado para este propósito. A esfera de vidro contendo água benta começa a brilhar num tom fraco de luz, e então volta ao normal. Pronto para acabar com este jogo, ele arremessa-a contra o teto do lugar fazendo com que se parta e a água se espalhe. Algo próximo de uma chuva de água benta se forma por alguns poucos segundos e a água pura e santificada cai sobre a névoa atingindo o vampiro. Onde ele estivesse, a dor da água santa ferindo sua pele como ácido corroendo o metal, era tamanha que logo sua concentração se perdera e assim a névoa começou a se dissipar. Sua posição foi então revelada e com ela um novo ataque em conjunto é iniciado por Ramon e Ana.
O vampiro se depara com Ramon olhando em sua direção com a Serbu apontada para ele, então vem o primeiro disparo, seguido do segundo e posteriormente do terceiro. Os três projéteis atingiram novamente aquele corpo morto fazendo-o ser jogado contra a parede atrás dele. Ana, por sua vez, começa a correr na direção do maldito com sua cruz em mãos preparando um novo ritual. O semblante do vampiro é de surpresa quando nota a cruz vindo de encontro com sua testa. Ana começa a orar, iniciando um ritual de exoneração do corpo maldito de volta para sua cova, de onde nunca deveria ter saído. A pele da testa do vampiro começa a queimar mais e mais de acordo com as palavras proferidas pela mulher. O maldito não conseguia se mover devido os ferimentos e o poder do ritual. A fé de Ana era tamanha que ele sentia-se como se fosse esmagado por um navio. Enquanto isso Ramon preparava novas balas para recarregar sua arma.
O vampiro já estava quase com toda a sua face queimando quando alguns sons provenientes do corredor atrás da porta de entrada desta sala revelaram a presença de alguma coisa grande se aproximando. Ramon logo pensou na companheira transformada em Besta e por isso virou-se de costas para Ana em seu ritual e voltou sua atenção à porta. A ansiedade era tamanha que o suor escorria por sua testa chegando ao seu rosto e parando em seu queixo. Não acreditava que teria de pará-la novamente. Da ultima vez quase perdeu o braço. Ele diz à Ana:
- BlackWolf está chegando... Acho que ela está descontrolada de novo.
Ana não interrompe sua oração. O corpo do vampiro começa a entrar em combustão total. Ela finaliza o ritual dizendo:
- Volte para o Inferno, de onde não deveria ter saído. E se acredita na Piedade do Senhor e arrepende-se dos teus pecados, terá livre acesso ao Paraíso prometido. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Amém.
Então o corpo do vampiro se desfaz por completo. Na mesma instância que ele vira cinzas a porta de entrada é arremessada contra a sala pegando corpo de Ramon e jogando-o contra a parede oposta. BalckWolf babava em fúria procurando por mais vítimas para saciar sua sede de sangue. Ela estava sedenta por mais “diversão” enquanto Ana respirava ofegante após executar um ritual de alto nível. Agora ela teria mais um desafio: para Talutah e ajudar Ramon antes que seja tarde para os dois.